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sábado, 31 de março de 2012

CYRANO ( 1990 ) - CYRANO DE BERGERAC


No século XVII, Cyrano ( Gérard Depardieu ), espadachim e poeta, ama sua prima Roxanne ( Anne Brochet ), mas não se declara, porque tem vergonha do nariz descomunal. Roxanne diz a ele que está apaixonada por um dos jovens do regimento. Para deixá-la feliz e também ajudar o jovem, ele acaba topando juntar os dois, por mais que isso o machuque, inclusive escrevendo cartas e recitando poemas à amada sem nome do outro.


O próprio diretor Jean-Paul Rappeneau e Jean-Claude Carrière ( roteirista de Luis Buñuel e de A insustentável leveza do ser ) adaptarem quase ao pé da letra a peça em versos de Edmond Rostand ( 1868-1918 ), encenada pela primeira vez em 1897.


Há várias adaptações para o cinema ( inclusive a excelente comédia interpretada por Steve Martin e Daryl Hannah, Roxanne ), mas esta, com reconstituição de época irrepreensível, é a mais fiel e mais imponente, tendo recebido vários prêmios, inclusive o de melhor ator para Depardieu no festival de Cannes ( ele também foi indicado ao Oscar ).


DERSU UZALA ( 1975 )




No curso de uma investigação topográfica nos confins entre a Sibéria e a China em 1902, um destacamento comandado pelo Capitão Arseniev (Yuri Solomin) encontra um velho caçador mongol, Dersu Uzala (Maksin Munzuk), que concorda em servir como guia da expedição. A curiosidade dos brancos transforma-se gradativamente em respeito pelo velho, que estabelece profunda relação de amizade com o capitão,


Filme quase contemplativo, de grande beleza plástica e tom solene. O diretor de fotografia se aproveita ao máximo das belas paisagens naturais da Sibéria. Feito em uma época em que o diretor Akira Kurosawa praticamente se auto-exilou do Japão, devido a dificuldade de conseguir financiamento para seus projetos. Vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro.


A FALECIDA ( 1965 )


Num subúrbio do Rio de Janeiro, mulher chamada Zulmira (Fernanda Montenegro ) vive entre a realidade e a fantasia, procurando fugir da vida medíocre e monótona, da qual faz parte um marido fanático por futebol e um sonho : ser enterrada num luxuoso caixão de defunto.


Brilhante adaptação da peça homônima de Nelson Rodrigues, com imagens fortes, interpretações marcantes e narrativa direta. Grande momento de Fernanda Montenegro, num filme em que brilha a consistência técnica do diretor Leon Hirszman.


CONTATOS IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU ( 1977 ) - CLOSE ENCOUNTERS OF THE THIRD KIND


Roy Neary ( Richard Dreyfuss ), é um homem comum que tem um encontro com um OVNI. Quando ninguém acredita nele, fica obcecado por descobrir o sentido dessa experiência, deixando de lado sua família no processo. A única pessoa que o compreende  é Jillian Guiler ( Melinda Dillon ), movida pela busca por seu filho, abduzido durante uma visita assustadora dos alienígenas.


Acaba ficando claro que ambos estão entre os "implantados", privilegiados com uma conexão compartilhada. Em paralelo com essas experiências íntimas de frustração e medo do desconhecido, de coragem e de alegria em confrontá-lo ( e em achar algo extraordinário nos alienígenas com jeitão de crianças ) estão os esforços internacionais do esperançoso Claude Lacombe ( François Truffaut ), chefe do projeto científico encarregado de investigar e responder ao contato dos extraterrestres. 


Contatos imediatos engloba temas recorrentes no trabalho do diretor Steven Spielberg. Seus personagens mais comuns estão lá ( o indivíduo em uma busca pessoal, a mãe simpática, o menino perdido, as autoridades pouco confiáveis), bem como a experiência transformadora. Há salvamento, redenção e afirmação dos valores pessoais. Remova os efeitos especiais e o que sobra é a história de um homem comum em circunstâncias extraordinárias.


Lançado pouco depois de Guerra nas estrelas, Contatos imediatos também se tornou um fenômeno pop imediato. Tanto a melodia de cinco notas de John Williams, ao mesmo tempo saudação e linguagem, quanto a montanha de purê de batata entraram para a cultura popular, e o assombro coletivo ante a visão da nave-mãe surgindo sobre a montanha servem para atestar o dom que Spielberg possui de maravilhar o público.



OS DOZE CONDENADOS ( 1967 ) - THE DIRTY DOZEN


Doze soldados condenados à morte são recrutados por oficial americano encarregado de transformá-los em soldados eficientes; eles terão que executar missão perigosíssima durante a II Guerra Mundial, e, se bem sucedidos, ganharão a liberdade.


Personagens fortes, vividos de maneira convincente, principalmente por John Cassavetes, Charles Bronson e Telly Savalas ( depois consagrado como Kojak).


Muita ação e acabamento altamente profissional do diretor Robert Aldrich. Teve três sequências para a TV e deu origem a um seriado. Ganhador do Oscar de efeitos sonoros.


ENCOURAÇADO POTEMKIN ( 1925 ) - BRONENOSETES POTYOMKIN


Encouraçado Potenkim, de Sergei Eisenstein, já é tão famoso há tanto tempo que se torna quase impossível encontrar alguma coisa nova para ser comentada. Trata-se de um dos marcos do cinema. Seu famoso massacre nas escadarias de Odessa já foi tantas vezes citado em outros filmes ( particularmente em Os intocáveis), que muitas platéias seguramente já viram a paródia antes de conhecer o original.


O filme oi encomendado pela liderança da revolução soviética para comemorar os 20 anos do levante do Potemkin, que Lenin considerava como a primeira prova de que poderia contar com o apoio das tropas ao proletariado para a derrubada da velha arte. Como esboçado no filme de Eisenstein, a tripulação do encouraçado, cruzando pelo Mar Negro se amotinou em razão de suas miseráveis rações.


Assim que os oficiais cobriram com um encerado um grupo de revoltosos e ordenaram que fossem executados a tiros, um marinheiro chamado Vakulinchuk gritou: "Irmãos! Contra quem vão atirar?". O pelotão de fuzilamento baixa suas armas e o motim se espalha pelo navio.


No continente, notícias sobre o levante se espalharam entre a população que por tanto tempo sofrera com a opressão do regime czarista. Ela providenciou o envio de comida e aguá para o encouraçado por intermédio de uma flotilha de pequenos barcos. Em seguida, numa das sequências mais famosas da história do cinema, aparecem as tropas descendo numa implacável formação czarista um interminável lance de escadas, atirando nos cidadãos que tentavam fugir, num fluxo aterrorizante.


O fato de que na verdade não houve o massacre das escadarias de Odessa não apagou a dramaticidade da cena. As tropas do Czar realmente atiraram em inocentes em alguns lugares de Odessa, e Eisenstein faria o seu trabalho como diretor ao concentrar essas matanças e encontra a perfeita sintonia cinematográfica para elas. É uma ironia que ele tenha representado tão bem a ponto de a matança das escadarias de Odessa ser sempre citada, como se tivesse realmente acontecido.


Encouraçado Potemkin foi concebido como propaganda para a conscientização revolucionária da classe, e Sergei Eisenstein deliberadamente evita a criação de qualquer personalidade em três dimensões ( até Vakulinchuk é mais exaltado como um símbolo ). Ao invés disso, massas de homens se movem em uníssono, como nas inúmeras tomadas do alto, sobre a proa do Potemkin. O povo de Odessa também é filmado como uma massa vista de relance, mas com rostos expressivos. Não há qualquer enredo pessoal para contrabalancear o importante drama político.


O encouraçado Potemkin é um filme muitas vezes visto de forma editada ou reduzido às suas cenas e sequências mais famosas. descobrir o impacto de se assistir ao filme na íntegra - ou seja, como uma história dramática e comovente - ,em vez de tratá-lo como uma inestimável caixa de jóias de onde se tiram preciosidades isoladas ao bel-prazer, pode causar surpresa.


quarta-feira, 28 de março de 2012

O TURISTA ACIDENTAL ( 1988 ) - THE ACCIDENTAL TOURIST


Escritor de guias de viagem ascético e metódico ( William Hurt ), que não gosta de viajar, é abandonado pela esposa, deprimida pela morte do filho único. Mas sua rotina se modifica quando ele encontra uma jovem e extrovertida divorciada ( Geena Davis ).


Drama intimista baseado no romance de Anne Tyler. Divertida analogia entre a atividade do protagonista e sua "viagem" pela vida. Geena Davis, no papel da expansiva e obstinada divorciada, ganhou o Oscar de coadjuvante, mas a interpretação mais ousada é a de Hurt, como um homem profundamente melancólico.


MOSCOU CONTRA 007 ( 1963 ) FROM RUSSIA WITH LOVE


Organização criminosa internacional planeja matar James Bond ( Sean Connery ) valendo-se de uma "isca" loira ( Daniela Bianchi ), que deve divertí-lo até entrar em ação o grupo de homens treinados para liquidá-lo.


Continuação de O satânico Dr. No ( 1962 ), é talvez o mais bem realizado filme da série inspirada nos romances de Ian Fleming. Movimentado, inventivo, divertido. Perseguições, violência e fugas mirabolantes.


Um dos raros filmes da série a a fazer referências a um episódio anterior. Dr. No, o vilão do primeiro filme, chega a ser mencionado, e a personagem Sylvia Trench chega a situar que os acontecimentos ocorrem seis meses após os fatos mostrados no filme anterior.


Ponto alto: a luta entre 007 e o agente da Spectre num vagão do Expresso do Oriente. Destaques para Lotte Lenya, como a chefe de operações da Spectre, e para a música de John Barry.


O DORMINHOCO ( 1973 ) - SLEEPER


Miles Monroe ( Woody Allen ), músico de jazz e proprietário de uma loja de alimentos saudáveis no Greenwich Village, é descongelado 200 anos depois e ter sido preservado em papel alumínio por causa de complicações durante uma rotineira cirurgia de úlcera.


Este é um dos "filmes divertidos da primeira fase", como o próprio Woody Allen o descreve: um veículo, no estilo das comédias de Bob Hope, para o personagem judeu resmunguento e neurótico de Allen à solta em uma visão do futuro moldada por filmes como 2001: uma odisséia no espaço, Laranja mecânica, THX 1138.


Como em Bananas ( 1971 ) e em A última noite de Boris Grushenko ( 1975 ), o personagem de Allen é um trapalhão que se envolve com um grupo revolucionário que parece fadado a substituir uma tirania por outra. Há alguns trechos filosóficos cortantes sobre relacionamentos românticos condenados ao fracasso, mas o foco principal do filme é a comédia.


Esta varia desde alfinetadas satíricas a valores da época, vistos de uma perspectiva futurista tortuosa ( foi provado que comida gordurosa e cigarros são melhores para você do que alimentos saudáveis ), até o estilo pastelão do cinema mudo ( uma banana gigante naturalmente leva a uma gag com uma casca de banana gigante ), passando por surrealismo pirado durante uma sessão de desprogramação mental que se transforma em uma reprise de Uma rua chamada pecado ( 1951 ), com Diane Keaton e Allen nos papéis de Marlon Brando e Vivien Leigh.



terça-feira, 27 de março de 2012

A TESTEMUNHA ( 1985 ) - WITNESS


O agente John Book ( Harrison Ford ) protege a viúva Rachel Lapp ( Kelly McGillis ) e seu  filho, que presenciaram o assassinato de um policial, vivendo com eles em uma comunidade Amish - grupo puritano que vive como se estivesse no século XIX.


Magistral direção do australiano Peter Weir, que conseguiu fundir duas épocas em uma só história, associando ainda drama, romance e suspense.


Sinceros e comoventes desempenhos de Ford e McGillis. Oscar de roteiro original e montagem.


CORAÇÃO SATÂNICO ( 1987 ) - ANGEL HEART




Em 1955, na cidade de Nova York, o detetive particular Harry Angel (Mickey Rourke) é contratado pelo misterioso cliente Louis Cyphre (Robert De Niro) para encontrar um cantor, conhecido como Johnny Favorite, que sumiu há vários anos. Quanto mais se aprofunda na investigação, mais confuso Harry fica, envolvendo-se com pessoas estranhas, que curiosamente morrem logo após entrar em contato com ele. Nesta jornada, Harry conhecerá um mundo místico e encontrará um caminho sem volta.



Profundamente perturbador, Coração Satânico é um filme que jamais apela para sustos fáceis  ou monstros repugnantes que saltam na tela como forma de provocar o medo no espectador. Seu mérito está no excelente roteiro e na firmeza com que o diretor Alan Parker conduz a narrativa, utilizando sua categoria como diretor para criar um visual cheio de estilo, levando o espectador a descobrir junto com o protagonista o trágico destino que este inevitavelmente encontrará.




Durante esta intrigante jornada, seremos envolvidos por um clima sombrio e macabro, repleto de imagens chocantes, que levam a um final surpreendente.



segunda-feira, 26 de março de 2012

LEMBRANÇAS DE HOLLYWOOD ( 1990 ) - POSTCARDS FROM THE EDGE


Por exigência dos produtores, atriz toxicômana ( Meryl Streep ) volta a morar com a mãe ( Shirley MacLaine ), atriz de musicais de meia-idade, famosa e alcoólatra. As duas passam a limpo suas vidas atual e pregressa, as amizades e o meio em que vivem.


Roteiro de Carrie Fisher ( a princesa Lea de Guerra nas Estrelas ), baseado em romance de sua autoria: ela é ex-esposa de Paul Simon, filha de Debbie Reynolds ( cantando na chuva ) e do cantor Eddie fisher.


Seu best seller é um saboroso retrato dos bastidores de Hollywood, transposto para este drama muito bem dirigido pelo diretor Mike Nichols.



CINEMA PARADISO ( 1988 )


Ao receber a noticia de que o projecionista do cinema de sua terra natal morrera, cineasta bem-sucedido que vive em Roma começa a se lembrar dos anos em que era um menino que morava em uma pequena cidade na Sicilia e passava a maior parte do tempo no Cinema Paradiso.


Lá, tornou-se amigo do operador Alfredo ( Philippe Noiret, em um grande papel), um pai substituto que, após ficar cego durante um incêndio, continuou a trabalhar com a ajuda do menino. Tudo na aldeia gira em torno do cinema, um lugar de diversão, mas também de reuniões e fofocas.


As personalidades da platéia do Paradiso são peculiarmente encantadoras, especialmente o padre que assume o lugar de censor, cortando do filme as cenas "ousadas".


Nas tradições estimadas do neo-realismo e da comédia italiana, Cinema Paradiso encontra um equilíbrio excelente entre humor e nostalgia. Ecoando Os incompreendidos  ( 1959 ) de François Truffaut, a imagem de uma infância feliz nutrida por filmes revela a gratidão de do diretor Giuseppe Tornatore aos mestres do cinema.

OS INCOMPREENDIDOS ( 1959 ) - LES QUATRE CENTS COUPS




O filme narra a história do jovem parisiense Antoine Doinel, um garoto de 14 anos que se rebela contra o autoritarismo na escola e o desprezo dos pais Gilberte e Julien Doinel. Rejeitado, Doinel passa a faltar as aulas para freqüentar cinemas ou brincar com os amigos, principalmente René. Com o passar do tempo, vivenciará algumas descobertas e cometerá pequenos delitos em busca de atenção até ser aprisionado em um reformatório, levado pelos próprios pais.


Filme de estréia de François Truffaut, Os incompreendidos, lhe rendeu o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes em 1959. Da noite para o dia, o jovem realizador estava no mapa da cultura cinematográfica mundial - e preparando o caminho para companheiros de nouvelle vague, como Jean-Luc Godard e Eric Rohmer, que já estavam envolvidos em seus próprios projetos de vanguarda.


Como outros cineastas da nouvelle vague, Truffaut cultivava suas principais idéias escrevendo artigos para a Cahiers du Cinema, a sofisticada revista de cinema editada por Andre Bazin - que muitas vezes incentivava os críticos da publicação a perseguirem suas convicções para além das questões estéticas e filosóficas que lhe interessavam pessoalmente. Truffaut era o colaborador mais agressivo do grupo, criticando ferozmente a "tradição de qualidade" do cinema francês enquanto formulava a politique  des auteurs que encarava diretores extremamente criativos como os principais autores de seus filmes.


Os incompreendidos está repleto desse espírito do cinema personalista que Truffaut louvava como crítico. O herói Antoine Doinel ( Jean-Pierre Léaud ), é uma versão ligeiramente ficcionalizada do próprio autor, e Truffaut revelou ter alimentado a intensidade da interpretação do ator de 15 anos de idade ao se unir a ele em uma conspiração pessoal contra o restante do elenco e da equipe. Este foi o início de uma longa colaboração entre o ator e o diretor; e eles voltaram a este personagem no curta Antoine e Collette, de 1962, e em mais três produções: Beijos proibidos, de 1968, Domicilio conjugal, de 1970, e O amor em fuga, de 1979. 







domingo, 25 de março de 2012

A ERA DO RÁDIO ( 1987 ) - RADIO DAYS


Diversos episódios interligados pela presença constante do rádio no cotidiano de família judia do Queens, em Nova York, nos anos 40.


Nostálgica homenagem aos personagens e programas da idade de ouro do rádio americano, sob a ótica da infância do diretor Woody Allen ( que faz a narração ). 


As imagens inspiram-se nos filmes de Federico Fellini - com desenho de produção de Santo Loquasto e fotografia de Carlo di Palma - e a trilha sonora é de extremo bom gosto, incluindo número com a brasileira Denise Dumont parodiando Carmen Miranda, e outro belíssimo, com Diane Keaton. Atores perfeitos e personagens cativantes.