terça-feira, 31 de janeiro de 2012

M, O VAMPIRO DE DUSSELDORF ( 1931 ) - M



No começo da década de 30, Irving Thalberg, o gênio da produção da MGM, convoca todos os seus roteiristas e diretores para uma exibição de M, o vampiro de Dusseldorf, o thriller alemão de Fritz Lang, e então os critica em massa por não fazerem filmes tão inovadores, empolgantes, profundos e comerciais como este. É óbvio que, como admitiu Thalberg, se alguém tivesse tentado vender ao estúdio uma história sobre um serial killer de crianças ( que, no fim das contas, é uma vítima e acusa sociedade de uma corrupção mais profunda do que a sua psicose), teria sido expulso aos pontapés imediatamente.



Enquanto, em um primeiro momento, Hollywood considerava os filmes sonoros mais propícios a musicais e adaptações teatrais, uma geração de cineastas europeus viu o potencial da nova mídia para gerar emoções fortes e efeitos psicológicos. Inspirado talvez no tema de O pensionista, o filme mudo de 1927 de Alfred Hitchcock, e nas técnicas de seu filme falado Chantagem e confissão, de 1929, Lang - que havia terminado sua carreira no cinema mudo com Metrópolis ( 1927 ) e A mulher na Lua ( 1929 ), ambos considerados dispendiosos fracassos antes de terem seus  valores  reconhecidos - dedicou-se a se restabelecer como artista popular. Não obstante, M é incomum em sua estrutura narrativa, apresentando uma série de cenas de montagem ( muitas vezes com narração, um recurso novo ) que ajudam a compor o cenário de uma cidade alemã aterrorizada.


A causa da comoção é Franz Becker ( Peter Lorre ), um jovem gorducho que assobia compulsivamente uma ária de "No salão do rei da montanha", de Edvard Grieg, enquanto de aproxima das crianças que assassina ( e, subentende-se, molesta ).Seus crimes são representados através de imagens impactantes mas simples, como a de um balão solto subindo contra cabos telefônicos ou a de uma bola abandonada. Estabelecendo convenções que ainda são usadas em filmes de serial killers, Lang e o cenógrafo Thea von Harbou intercalam cenas da vida patética do assassino com o frenesi da investigação policial  sobre os crimes chocantes, dando atenção também a questões secundárias, como a cobertura da imprensa, a ação de vigilantes - como na cena em que um inocenta informa as horas para um grupo de crianças e é subitamente cercado por uma multidão enfurecida - e a pressão política que incentiva mas, ao mesmo tempo, atrapalha a polícia. Em um toque de cinismo, a polícia reprime todas as atividades criminosas para pegar o assassino, levando os bandidos profissionais à margem da sociedade a também caçá-lo como um animal.

No poderoso final, Becker é julgado pelo submundo e se defende com o surpreendentemente tocante argumento de que as pessoas apenas escolhem cometer seus crimes, enquanto ele é forçado a cometê-los.
O assassino desesperado, lúcido e dono de uma impulsividade animal de Lorre é a voz final de M, forçando seus perseguidores ( e a nós) a olharem para dentro de si mesmos em busca das sementes de uma psicose equivalente à dele. Enfatizando com criatividade os avanços tecnológicos do som no cinema, Lang faz com que o assassino seja ouvido antes de ser visto ( diz-se que o diretor dublou o assobio de Lorre ) o que faz com que seja identificado por uma testemunha cega.


segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

CÃES DE ALUGUEL ( 1992 ) - RESERVOIR DOGS


Um autoproclamado viciado em vídeos, Quentin Tarantino tinha apenas 28 anos quando escreveu o roteiro para seu filme revolucionário.



Repleto de diálogos memoráveis e interpretações esplêndidas do elenco, Cães de aluguel conta a história das consequências sangrentas de um roubo de diamantes que deu errado. Em flashback, vemos os crminosos no momento em que são reunidos por Joe Cabot ( Lawrence Tierney ) - nenhum deles conhece as identidades reais dos outros ( tornando impossível para qualquer um denunciar seus cúmplices ) - e quando recebem novos apelidos : o Sr. Marrom ( Tarantino ), o estúpido Sr. Rosa ( Steve Buscemi ), o jovem Sr. Laranja ( Tim Roth ), o entediado Sr. Branco ( Harvey Keitel ) e o violento Sr. Louro ( Michael Madsen, em um desempenho hipnótico e assustador ). Em uma série de cenas reveladoras, passamos a conhecer os eventos que levam ao climax sangrento em um armazém. 



Mas não é só a trama inteligente o que torna este filme um grande clássico da década de 90.Como o segundo filme dirigido por Tarantino, Pulp Fiction - tempo de violência ( 1994 ), este também teve uma escalação de elenco habilidosa, e é recheado de cenas notáveis que se tornaram parte da história do cinema, cada uma contendo referências à cultura pop que agora são reconhecidas como uma marca registrada de seus roteiros. Quer seja em uma cena em que os homens - reunidos em uma cafeteria antes do roubo - discutem tudo, desde a etiqueta de gorjetas até o real significado de "Like a Virgin", de Madonna, ou uma cena chocante de "orelha" com Madsen, Tarantino escolhe suas palavras e ações de maneira tão inteligente que ficamos sabendo muito sobre as características de cada personagem, não importando a trivialidade do que falam. Uma magnífica estréia de um dos talentos mais originais a surgir no cinema na década de 90.


domingo, 29 de janeiro de 2012

NOS TEMPOS DA BRILHANTINA ( 1978 ) - GREASE


Um clássico kitsch, Grease foi para as adolescentes da final dos anos 70 o que Guerra nas Estrelas foi para os garotos. John Travolta, de quadris finos e cabelo cheio de brilhantina, é Danny Zuko, líder cool dos T-Birds na escola Rydell High nos anos 50. Durante as férias ele se apaixona pela doce Sandy Olsson ( Olivia Newton-John ), de outra cidade, e depois fica constrangido quando ela aparece em sua escola - a imagem virginal de Sandy constitui uma séria ameaça ao estilo dele.

O filme tem uma trama mais do que batida: rapaz modernoso não quer namorar menina certinha, rapaz fica com ciúme quando ela sai com outro. Há vários mal-entendidos provocados pelos amigos intrometidos até ele perceber que o amor é mais importante do que ser cool, e no final, todos são felizes para sempre. Mas o importante aqui não é a história, e sim os ingredientes que o diretor Randal Kleiser acrescentou à mistura e que fazem deste um grande musical. Além de ter encontrado duas estrelas ideais - John Travolta ( logo após o megassucesso de Os Embalos de Sábado à Noite  ) e Olivia Newton-John (em um papel originalmente oferecido a Marie Osmond ) -, o elenco tem atores coadjuvantes bem escolhidos como Didi Conn no papel da ex-aluna de estética Frenchy, Stockard Channing como a vadia Rizzo e Frankie Avalon como o orientador de Frenchy.



Há também algumas sequências ótimas, como a corrida de carros de Thunder Road, no estilo "Ben-Hur", Travolta abrindo seu coração machucado no drive-in enquanto cachorros-quentes animados dançam na tela atrás dele e, o melhor de tudo, os números de música e dança que não deixaram ninguém ficar parado naquele final de anos 70.




PERDIDOS NA NOITE ( 1969 ) - MIDNIGHT COWBOY

Joe Buck ( Jon Voight ) - Enrico "Ratso" Rizzo ( Dustin Hoffman )
O texano Joe Buck ( John Voight ) parte para Nova York, acreditando que as mulheres ricas estarão ansiosas para pagar um homem como ele para fazer sexo ( o título original do filme é uma gíria americana para "garoto de programa" ). O seu sucesso tragicômico de recém-chegado ingênuo é acentuado por flashbacks tristes, perturbadores, em particular uma agressão terrível contra Joe e sua garota Crazy Annie. O "desenvolvimento de sua carreira" em Nova York consiste em uma seqüência de encontros deprimentes, sobretudo um com Sylvia Miles.


Empobrecido e solitário, Joe se junta ao vigarista inválido e autodestrutivo Enrico "Ratso" Rizzo ( Dustin Hoffman ), que o convida a compartilhar o seu refúgio. As expectativas de Joe diminuem conforme seus fracassos se acumulam , enquanto, por outro lado, a piora na condição física de Ratso faz com que seus sonhos de uma nova vida na Flórida aumentem.

Embora o filme seja chamado de cáustico e desesperançoso, a obra trata, em última instância, de esperança. Esse ponto de vista é justificado pelo fato de Joe abandonar sua fantasia de gigolô justamente quando parece possível atingi-la, em troca de uma relação verdadeira e humana. O diretor Schlesinger trouxe um agudo olhar britânico à sua estréia americana, encontrando uma vitalidade rude na cidade que acentuou o isolamento desesperado dos personagens.


Possivelmente a escolha mais audaz já feita para um Oscar, Perdidos na Noite é o único filme classificado como "X" ( maiores de 17 anos ) nos Estados Unidos a ter ganho um Oscar de Melhor Filme. Tal distinção fez com que sua classificação fosse repensada e, apesar de abordar temas difíceis para a época, como homossexualidade e prostituição, a classificação do filme foi alterada para "R" ( menores de 17 anos somente acompanhados ). O seu êxito comercial comprova que o público estava pronto para abraçar a sua maturidade, o realismo sincero e a emotividade de suas atuações.


A VIDA DE BRIAN ( 1979 ) LIFE OF BRIAN


Tendo começado a vida como uma piada ( quando lhe perguntaram qual seria o próximo filme do Monty Python, Eric Idle, membro do grupo respondeu: " Jesus Cristo: a cobiça da glória " ). A vida de Brian, de 1979, acabou se tornando algo mais sutil. Ou, ao menos, "sutil" no que diz respeito ao humor escrachado do Monty Python.

Michael Palin como Pilatos ( responsável por alguns dos melhores momentos do filme )

Enquanto tenta ( sem êxito ) evitar as acusações de blasfêmia estabelecendo claramente que o Brian interpretado por Graham Chapman "não é o Messias, é só um garoto muito malcriado", A vida de Brian dispara tiradas rápidas e piadas com os personagens do Novo Testamento e, ao longo da narrativa, nos mostra pontos de vista satíricos e morais. Embora também este filme, como o restante da produção do grupo, seja essencialmente uma sucessão de esquetes surreais e muito engraçados unidos apenas por um fio tênue de narrativa, ele tem - por motivos óbvios - uma história mais sólida. A cena final, com Eric crucificado cantando a hoje clássica "Always Look on the Bright Side of Life" ( Veja sempre o lado bom da vida ) enquanto Brian morre na cruz, abandonado por sua família, seguidores e amigos, talvez seja um dos pontos altos do humor negro no cinema.


sábado, 28 de janeiro de 2012

A CAIXA DE PANDORA ( 1929 ) - DIE BÜCHSE DER PANDORA


Louise Brooks nos observa da tela como se a tela não estivesse ali; ela joga para longe o artifício do filme e nos convida a atuar com ela. Carrega sua beleza como um presente sobre o qual não se precisa pensar muito, e nos enfrenta como uma menina malcriada. Quando encontramos alguém assim na vida, ficamos atraídos, mas no fundo da nossa alma sabemos que isso é encrenca.


A vida não pode permitir tanta liberdade, e Brooks, portanto, nos seus melhores filmes é oprimida - e punida por ser tão arrebatada. Dona de uma presença tão poderosa e erótica que a impediu de fazer a transição de suas melindrosas mudas para os papéis falados que merecia em uma Hollywood dominada por Shirley Temple, a Brooks de A caixa de Pandora é a vamp definitiva, comseu corte de cabelo curtinho de franja reta (" Um dos dez cortes de cabelo que mudaram o mundo", de acordo com a revista InStyle ).


A fama de A caixa de Pandora, obra-prima atemporal de G. W. Pabst, se deve da criação de um personagem arquetípico a partir de Lulu ( Louise Brooks ), uma inocente sedutora cuja escancarada sexualidade acaba arruinando a vida de todos à sua volta.


A história começa com Lulu em uma sala de estar burguesa de Berlim, onde ela é a adorada amante de Peter Schön ( Fritz Kortner ), um editor de jornal viúvo, e flerta com Alwa (Francis Lederer ), o filho adulto de seu amante, e até com o cafetão Schigolch ( Carl Goetz), com aparência de gnomo e que pode ser tanto seu pai como seu primeiro caso amoroso. Lulu parece ser entregue ao dono de um cabaré ( Krafft-Raschig ), no entanto, ao se sentir provocada quando Schön diz ao filho que "não se deve casar " com uma mulher do seu tipo, ela arma um incidente no camarim da casa de espetáculos, fazendo com que o editor rompa sua relação com a noiva e se case com ela, embora Schön saiba que isso o levará a ruína.


Apesar das suspeitas de que seu marido tenha cometido suicídio, Lulu acaba sendo condenada por seu assassinato. Fugindo com alwa, Schigolch e sua admiradora, a condessa Geschwitz ( Alice Roberts, em uma das primeiras personagens claramente lésbicas do cinema ), ela chega a um barco no rio Sena - um antro de jogo e ópio onde ela quase é vendida para um bordel egípcio e surpreende Alwa a traindo de forma humilhante - e finalmente a uma Londres natalina, onde é perseguida por Jack, o estripador ( Gustav Diessl).


Embora as peças originais se passem em 1888, o ano dos crimes do Estripador, Pabst imagina um cenário fantástico, porém contemporâneo, que parece começar na moderna Berlim da década de 20 e então voltar no tempo a uma Londres nebulosa para uma cena de assassinato que é o primeiro grande insight do cinema no que diz respeito à mentalidade de um serial killer. Lulu, que havia se tornado prostituta, encanta o titubeante Jack, que joga de lado sua faca e faz um esforço sincero para não matar novamente, mas é vencido pelo seu impulso assassino.

CRÍA CUERVOS ( 1975 )


" Crie corvos e eles lhe arrancarão os olhos !" É o que diz o ditado espanhol, equivalente talvez a " Você colhe aquilo que planta", e que deu ao filme mais querido de Saura o seu título. A jovem Ana, interpretada pela extraordinária Anna Torrent, acorda uma noite  e desce as escadas: sons estranhos parecem estar vindo do quarto de dormir de seu pai viúvo. Subitamente, uma mulher saí pela porta e foge da casa. Seu pai, um militar a serviço de Franco, está morto, e de alguma forma ana está certa de que a culpa é dela mesma. Depois dessa abertura assombrosa, Cria Cuervos se transforma em uma crônica de Ana e de suas duas irmãs conforme vão passando pelos percalços do amadurecimento, aprendendo aos poucos o que a liberdade poderia ser.



Filmado literalmente enquanto Franco estava em seu leito de morte, o filme segue a metáfora da vida sob o fascismo como uma espécie de infância retardada - vista em vários outros filmes espanhóis do período - , ainda assim tratando o tema com uma sensibilidade e uma graciosidade refrescantes. Geraldine Chaplin, a musa constante de Saura neste período, está maravilhosa em um papel duplo como a mãe de Ana, abatida pelo câncer, e a Ana adulta que reflete sobre eses eventos em seu passado. Sua presença segura como a Ana adulta parece deixar implícito que o fascismo já é uma coisa do passado, algo suportado com dificuldade mas que, no fim, é vencido.  



JANELA INDISCRETA ( 1954 ) - REAR WINDOW



A apoteose de todas as fixações psicossexuais ardentes e mal reprimidos de Hitchcock, Janela Indiscreta é também provavelmente ( com a possível exceção de Um Corpo que Cai, de 1958 ), a mais bem sucedida mistura de entretenimento, intriga e psicologia da extraordinária carreira do diretor.

Para ter um máximo de liberdade, Hitchcock construiu uma complexa réplica de um prédio de apartamentos abarrotado de pessoas e em constante agitação com seu pátio igualmente movimentado. Cada janela dá vista para uma outra vida, e para todos os efeitos, conta outra história. Em uma, um compositor se debruça sobre seu piano, lutando com sua obra mais recente. Em outra, um dançarino treina compulsivamente. Um apartamento abriga uma mulher solitária, mal-sucedida no amor, enquanto outro abriga um apaixonado casal recém-casado.

L.B. Jeff Jeffries ( James Stewart ) é um fotógrafo de sucesso afastado do trabalho por conta de uma perna quebrada. Preso a uma cadeira de rodas o dia todo, não tem nada melhor para fazer do que espiar seus vizinhos. ou pelo menos é o que ele afirma, pois sua namorada ( e aspirante a esposa ), a modelo profissional Lis ( Grace Kelly, em um dos seus últimos papéis ), e sua enfermeira rabugenta Stella ( Thelma Ritter ) observam com perspicácia que ele está apenas viciado na emoção do voyeurismo. 


A idéia de que alguém conseguiria desgrudar os olhos de uma personagem tão bela e radiante quanto Lisa é difícil de acreditar, até que Jeff começa a suspeitar que um de seus vizinhos assassinou a esposa. Logo, Jeff arrasta Lisa e Stella para o mistério, estudando obsessivamente o comportamento do vizinho em busca de sinais de culpa. Contudo, à medida que a investigação furtiva de Jeff avança, o mesmo acontece com histórias de todos os seus outros vizinhos, que ignoram a trama abominável que se desenrola literalmente na porta ao lado.



Janela Indiscreta é construído de forma tão minuciosa quanto seu complexo cenário. Assisti-lo é como observar um ecossistema vivo, pulsante, com a emoção adicional de um misterioso assassinato para completar. Hitchcock se diverte com o cenário particularmente pós-moderno do filme: nós, os espectadores, somos hipnotizados pelas ações dos personagens, que, por sua vez, estão hipnotizados pelas ações de outros personagens. É um círculo vicioso de obsessão arrematado com humor negro e um toque de sensualidade.

De fato, embora o abelhudo Jeff possa descobrir um assassinato no seu vilarejo urbano, são os vários romances que ocorrem nos outros apartamentos que chamam inicialmente sua atenção para o peep show do pátio. É uma perfeita ironia que suas obsessões pela vida amorosa dos vizinhos o impeçam de admitir seu interesse romântico por Lisa. Na verdade, o solteiro que existe em Jeff  vê seus vizinhos como uma desculpa para repelir os avanços dela. Apenas quando suas atitudes a colocam em perigo ele finalmente percebe que o que tem diante de si é melhor do que qualquer coisa que possa ver pela janela.


sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

BONEQUINHA DE LUXO ( 1961 ) - BREAKFAST AT TIFFANY'S


Truman Capote, autor do romance que inspirou Bonequinha de luxo, imaginou Marilyn Monroe interpretando o papel da protagonista, a festeira Holly Golightly, mas é difícil imaginar alguém que tivesse se adequado tão bem ao papel quanto Audrey Hepburn.


No livro de Capote, Holly é apresentada claramente como como uma garota de programa, assunto que costumava esbarrar na censura em 1961, ano em que Blake Edwards adaptou o livro. Por isso, a Holly de Audrey Hepburn é retratada como uma mulher que sobrevive graças aos presentes de seus "admiradores". No prédio onde vive, tambem reside o escritor Paul ( George Peppard ), que luta para mostrar seu talento e também se mantem graças a ajuda de uma benfeitora ( Patricia Neal ), com quem tem um caso. O equilíbrio delicado dos relacionamentos dos dois personagens é colocado em xeque quando paul se apaixona por sua vizinha linda e um tanto exasperante.

Com o cabelo puxado para trás, belíssima em um vestido preto, Audrey incorporou uma imagem inesquecível, que não esmaeceu com a passagem do tempo. Acrescente a isso a música de Henry Mancini ( grande colaborador de Edwards ) e vários momentos clássicos, e o resultado é um dos dramas românticos inesquecíveis produzidos por Hollywood .



O ENIGMA DE OUTRO MUNDO ( 1982 ) - THE THING


Um grupo de cientistas ( incluindo Kurt Russell, como protagonista ) em uma estação isolada na Antártida é atacado por um ser alienígena que pode se apossar de seus corpos. Sem contato com o mundo, os homens se tornam cada vez mais paranóicos à medida que suspeitam que os outros foram possuídos pelo alienígena e compreendem que precisam impedir que este deixe a estação, caso contrário infectará todo o planeta.

Baseado em Who Goes There ?, clássico da literatura de ficção científica de John W. Campbell Jr. adaptado originalmente por Howard Hawks em 1951 como O monstro do Ártico, esta versão de 1982, de John Carpenter ignora  a aventura do filme de Hawks e se atém a claustrofobia e ao medo existencial. O enigma de outro mundo de Carpenter se tornou um dos filmes de horror mais influentes dos anos 80.

Junto com os filmes de David Cronenberg, O enigma de outro mundo é um dos filmes que melhor explora o tema da invasão de corpos presente em muitos filmes de horror e ficção da década de 80. Este é um dos primeiros filmes a mostrar sem hesitação carne e osso se rompendo e se contorcendo em quadros grotescos de beleza surreal, elevando para sempre o nível do horror cinematográfico.


O ILUMINADO ( 1980 ) - THE SHINING


Graças a adaptação inspirada de Stanley Kubrick do livro homônimo de Stephen King, O Iluminado não só trouxe fama inabalável ao escritor como também transformou Jack Nicholson em uma superestrela. Seu grito de " Aquiiii está Johnny!!" macabro e de gelar o sangue, tornou-se uma cena memorável na história do cinema.
Shelley Duvall (Wendy) - Danny Lloyd ( danny ) - Jack Nicholson ( Jack Torrance )

O ex-alcoólatra Jack Torrance ( Jack Nicholson ) leva sua esposa Wendy ( Shelley Duvall ) e o filhinho Danny ( Danny Lloyd ) para morar no então vazio Overlook Hotel, uma colossal estância de veraneio nas montanhas Rochosas do Colorado onde foi contratado como caseiro na baixa estação. Á medida que o tempo passa, cada membro da família vivencia diferentes alucinações, todas apavorantes. Danny, com maiores poderes psíquicos, é o primeiro a ver as cenas dos assassinatos sangrentos que aconteceram no hotel anos antes. Em seguida, Jack começa a mergulhar lenta mas inexoravelmente na loucura. Embora não tenha consciência do que está acontecendo com ele, com otempo seu comportamento se torna mais errático e violento. Distraída pela retração de Danny e pelo comportamento irracional de Jack, Wendy é a última a sucumbir. No final, contudo, ela percebe o perigo iminente e, ainda que próxima da histeria, consegue sobreviver com seu filho.


O filme é sombrio, angustiante e claustrofóbico. Kubrick demonstra seu domínio da arte, criando uma atmosfera de grande tensão. Ao escolher cuidadosamente seus ângulos e ritmos de filmagem, induz o medo em suas platéias . Como todas as obras geniais, o iluminado transcende seu status de adaptação literária. Tornou-se não só um clássico de Kubrick como também um clássico do cinema de terror moderno. Curiosamente, Stephen King não ficou muito feliz com esta versão de seu livro. Em 1997 ele colaborou com Mike Garris em uma minissérie para a televisão que usou o texto de seu livro quase ao pé da letra.




ERA UMA VEZ NO OESTE ( 1968 ) - C'ERA UNA VOLTA IL WEST / ONCE UPON A TIME IN WEST


Neste faroeste, obra-prima do diretor Sérgio Leone, Charles Bronson assume o papel do homem sem nome, Harmonica, que busca vingança, enquanto Henry Fonda deixa de lado sua imagem de Wyatt Earp e interpreta Frank, o assassino de olhos azuis. A abertura é um espetáculo - Woody Strode, Al Mulock e Jack Elam esperam por um trem e são incomodados por uma mosca e uma goteira - , explorando os mínimos detalhes por um  tempo fascinante e sem acontecimentos até a chegada de Bronson para o tiroteio que dá início ao filme.
CLAUDIA CARDINALE
Era uma vez no Oeste é o primeiro filme de Leone a colocar a violência em um contexto verdadeiramente político, condenando o corrupto magnata das ferrovias que deixa " dois brilhantes e pegajosos trilhos como uma lesma " enquanto arrasa a paisagem, empregando bandidos para se livrar de colonos inconvenientes que não querem deixar suas terras.
HARMONICA ( CHARLES BRONSON ) - FRANK ( HENRY FONDA )

A civilização voraz conspurca as paisagens abertas enquanto Harmonica segue em sua jornada para perseguir o assassino de seu irmão, a prostituta viúva vivida por Claudia Cardinale tenta realizar o seu do falecido marido de criar uma verdadeira comunidade no Oeste e o bandido Interpretado por Jason Robards quer apenas ser deixado em seu estado infantil que lhe é natural. Com uma trilha sonora de Enio Moricone, interpretações precisas de atores certos nos papéis certos e tempo de duração épico, este é um western que ganha pontos pelo seu tamanho.


quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O BALCONISTA ( 1994 ) - CLERKS

Dante ( Brian O'Halloran ) - Randal ( Jeff Anderson )
O roteirista / diretor Kevin Smith surgiu em 1994 como o mais promissor recém-chegado da Geração X com este impressionante filme de estréia. Ambientado em uma loja de conveniências de Nova Jersey. O Balconista de Smith é um dia na vida de dois funcionários, Dante ( Brian O'Halloran ) e seu amigo Randal ( Jeff Anderson ), que trabalha na locadora de vídeos ao lado. Conforme várias pessoas estranhas entram na loja, Dante tenta resolver problemas de relacionamento, enquanto Randal passa a maior parte do dia entediado, insultando clientes, assistindo filmes pornôs e discutindo questões importantes como o verdadeiro significado da destruição da Estrela da Morte em O Retorno de Jedi.
Silent Bob ( Kevin Smith ) - Jay ( Jason Mewes )
Filmado em preto-e-branco, o filme de 27.500 dólares de orçamento foi filmado em 21 dias na loja QuickStop Groceries onde Smith havia trabalhado e onde ele editava o filme toda noite. Centrado em duas ótimas atuações  e recheado de ótimos diálogos, o filme também introduziu os dois personagens hilariantes que Smith usou em seus filmes seguintes, Barrados no Shopping, Procura-se Amy, Dogma e o Império do Besteirol Contra-Ataca ( todos ambientados ao menos em parte na Nova Jersey natal de Smith ) : Stoner Jay ( Jason Mewes ) e seu bem nomeado amigo Silent Bob ( o próprio Smith ).

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O ANJO AZUL ( 1930 ) DER BLAUE ENGEL


É muito apropriado que o filme que levou Marlene Dietrich ao estrelato  ( embora estivesse longe de ser seu primeiro filme ) comece com uma mulher limpando um vidro que exibe um poster de Lola e se comparando a essa imagem idealizada. Nessa equação, a realidade sem glamour das ruas ( ou, mais tarde, dos palcos ) vale mais na mente do diretor Josef von Sternberg do que o ideal ilusório, o que determina a lógica impiedosa de O Anjo Azul.

O protagonista é Immanuel Rath ( Emil Jannings ), um professor de ginásio que ensina inglês e literatura. Ele descobre que muitos de seu alunos estão com fotografias de Lola ( Marlene Dietrich ), uma atriz de um cabaré local denominado Anjo Azul.  Naquela noite, Immanuel vai até o Anjo Azul para pedir à Lola que pare de seduzir seus alunos. Mas inesperadamente, ele acaba se apaixonando pela atriz, e se interessa por suas apresentações. 
Immanuel  Rath ( Emil Jannings ) - Lola ( Marlene Dietrich )

É uma história sobre decadência. No decorrer dela, Rath será reduzido a um palhaço quase inumano. O diretor Sternberg frisa, com um rigor exemplar e sistemático, a verticalidade das relações de espaço no filme: Rath está sempre em uma posição mais baixa, erguendo os olhos para a imagem de Lola ( como quando ela joga sua calcinha em cima da cabeça dele).

Lola é uma femme fatale clássica, uma vez que seduz os homens e os dispensa quando se cansa deles - e, nesse meio tempo, gosta de tratá-los como escravos. Ainda assim, existe por um tempo um lado terno e leal no relacionamento dela com Rath; quando ela reprisa a famosa " Falling in Love Again ", quase conseguimos admitir a aceitação passiva do seu destino errante ( " Eu sei que a culpa não é minha ").




domingo, 22 de janeiro de 2012

BELEZA AMERICANA ( 1999 ) - AMERICAN BEAUTY



" Esta é a minha vizinhança, esta é a minha rua, esta é a minha vida", narra Lester Burnham ( Kevin Spacey ) enquanto a câmera passeia sobre a sua cidade até alcançar sua casa, no início do filme. "Tenho 42 anos. Em menos de um ano, estarei morto. É claro que não sei disso ainda. Mas, de certa forma, já estou morto mesmo." Como Joe Gillis ( William Holden ) em Crepúsculo dos Deuses, Lester e os espectadores sabem seu destino desde o início, mas logo percebemos que isso é apenas um detalhe de sua história.


Beleza americana é uma sombria comédia de humor negro sobre como é de fato a vida de pessoas que aparentemente vivem o chamado Sonho Americano - pessoas que não tem carência de coisas materiais, mas estão infelizes, insatisfeitas e não se realizaram na vida. Esta é, sobretudo, a história de Lester e, com Spacey no papel, ela se torna ainda mais fascinante - a história da crise de meia-idade de um sujeito enquanto ele tenta redescobrir a liberdade que ele perdeu graças as responsabilidades que assumiu como marido e pai. 


Obrigado a acompanhar a mulher em um jogo de basquete para ver a performance de sua filha como animadora de torcida, ele fica encantado com a ninfeta Angela ( Mena Suvari ). Logo passa a ter visões eróticas da menina ( sendo a mais memorável de todas a que ela aparece nua, apenas coberta com pétala de rosas vermelhas ) que o levam a mudar totalmente de vida, na esperança de conseguir seduzi-la.

Escrito por Alan Ball, que mais tarde criou a aclamada série de televisão A Sete Palmos para a HBO, este é um filme divertido, triste, melancólico e até mesmo otimista que nunca deixa de surpreender o espectador. Belo e chocante, Beleza Americana é uma estréia extraordinária do diretor teatral Sam Mendes no cinema.


MONTY PYTHON-EM BUSCA DO CÁLICE SAGRADO (1975) - MONTY PYTHON AND THE HOLLY GRAIL


Tudo começou com uma série de televisão chamada Monty Python's Flying Circus, apresentando as maluquices verbais e visuais de uma equipe de comediantes composta por cinco talentosos ingleses ( John Cleese, Michael Palin, Eric Idle, Terry Jones e Graham Chapman ) e um americano chamado Terry Gilliam, cujas animações feitas com recortes serviam de vinhetas entre os esquetes do programa.

O programa se manteve com certa continuidade entre 1969 e 1974. Tentar repetir o sucesso na tela grande parecia a próxima etapa lógica, e , em 1975 o Python lançou Em Busca do Cálice Sagrado, escrito por todo o grupo e co-dirigido por Gilliam e Jones. A produção em sí foi tão caótica quanto os esquetes do grupo.Os dois diretores não formavam uma dupla compatível: tinham visões diferentes quanto ao estilo do filme e Gilliam se irritou com a tendência de Jones de diminuir a grandiosidade dos seus cenários com enquadramentos fechados. Além disso, o alcoolismo de Chapman ( que interpretava o Rei Athur ) estava em seu auge, por vezes fazendo com que a estrela da produção fosse literalmente incapaz de pronunciar as suas falas enquanto a câmera rodava.


Mas todos sabem que é impossível controlar o Monty Python: o grupo triunfou sobre estes problemas tão rapidamente quanto deu a volta por cima do orçamento reduzido da produção. Quem viu o filme se lembra da forma hilária como os cavaleiros andam saltitando sobre os próprios pés, batendo cocos para imitar o ruído dos cascos de cavalos. A inspiração para esse humor surrealista não foi um golpe de genialidade cômica, mas sim a necessidade de ter que mover os personagens de um lugar para outro com um orçamento tão baixo que era inviável usar cavalos de verdade !
Um dos filmes mais engraçados de todos os tempos.