O sombrio e perturbador filme de suspense quase onírico de David Lynch gerou controvérsias por conta da violência sexual vívida e da chocante encenação que Dennis Hopper faz de um psicopata sádico, mantendo como refém a família de uma cantora enquanto ele tolera ser brutalizada. A descrição que ele faz da crueldade e do horror que se esconde sob a superfície ascética da classe média dos Estados Unidos, em suas casas tranquilas com cercas pintadas de branco, não é exatamente sutil, mas implacavelmente absorvente, ousada e repleta de estilo. Veludo azul combina um certo mistério distorcido com uma sátira irônica à cultura americana. O tom é, ao mesmo tempo, excêntrico, jovial e ligeiramente estilizado.
Kyle MacLachlan e Laura Dern estão cativantes como Jeffrey Beaumont e Sandy Williams, os inocentes jovens enredados no grotesco relacionamento entre Hopper - que interpreta o desvairado sequestrador e assassino viciado no seu tanque de oxigênio Frank Booth ( Hopper, cuspindo obscenidades, está muito perturbador, tendo gerado um dos psicopatas mais famosos da telas ) - e a maltratada Dorothy Valens, interpretada pela corajosa Isabella Rosselini. Dorothy é uma atormentada cantora de cabaré que fica a mercê de Booth, enquanto ele mantém seu marido e filho cativos.
Lumberton, onde o filme se passa, é radiante e sombria como qualquer outra cidade americana, com seus gramados bem cuidados e seus canteiros de flores, um centro industrial e uma lanchonete sem graça. É na lanchonete que Jeffrey e Sandy se reunem, formando uma dupla de detetives amadores à medida que o amor floresce. Mas tudo está fora dos eixos, seja de forma leve ou infame, desde a descoberta de uma orelha humana pelo curioso Jeffrey e suas aventuras perigosas e angustiantes como voyeur e investigador de crimes até sua chegada estupefata à estranha cena de morte.
A cena na qual Jeffrey, escondido no armário de Dorothy, testemunha Frank estuprar a vítima em um roupão de veludo azul é a principal causa de discussões em torno deste filme, mas também um exemplo clássico e notável da audácia de Lynch. O uso inteligente de inocentes baladas pop ( sobretudo a canção título ), entremeadas à trilha sonora de suspense aumenta a tensão. Apesar de aparecer em apenas uma cena ( dublando "In Dreams", de Roy Orbison ), o desempenho de Dean Stockwell como Ben, o aliado de Frank, quase se equipara à impressionante e sinistra anormalidade de Hopper.
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