quinta-feira, 3 de maio de 2012

PARIS, TEXAS ( 1984 )


Um homem dado como desaparecido retorna depois de muitos anos ao convívio da família e reencontra o filho; ambos saem à procura da mulher dele, a mãe do garoto, que desapareceu e foi trabalhar como strip-teaser. 


Paris, Texas, de Wim Wenders, é a história de sucessivas perdas. Esse homem, que se chama Travis (Harry Dean Stanton ), foi casado e teve um filho. Depois deu tudo errado, ele perdeu a esposa Jane ( Nastassja Kinski) e filho e saiu andando a esmo durante anos. Agora ele encontrará e tornará a perder a família, desta vez não pela loucura, mas pelo sacrifício. Desistirá deles porque os ama.


O filme é desprovido de truques usuais para acirrar emoções e acrescentar interesse à história, até porque não precisa: seu fascínio é a tristeza de sua própria verdade. O roteiro, escrito por Sam Shepard, dramaturgo da alienação e da ira, reflete temas que se repetem em toda a carreira do diretor alemão Wim Wenders, atraído pelo roas-movie, pelo mito americano, pelos que ficam à margem e testemunham o sofrimento. Em Paris, Texas, Travis é como Damiel, o anjo da guarda de Asas do Desejo. Ama e cuida, cria empatia, mas não pode tocar. Não tem esse dom.


Este filme é sempre comparado a Rastros de ódio, de John Ford, no qual um homem vagueia pelo deserto à procura de uma jovem capturada pelos índios. Outro filme que também dizem ter sido inspirado pelo filme de Ford é Taxi Driver, de Martin Scorsese, em que o herói ( também chamado Travis ) tenta resgatar uma jovem das garras de um cafetão.


Na narrativa de Wenders, Jane é descoberta trabalhando em um clube de sexo, onde sua especialidade é sentar por trás de uma vidraça e conversar com os clientes por um telefone. Em ambos os casos o tema oculto é a necessidade de salvar a mulher de algo que se percebe como escravidão sexual. Todos os três heróis - interpretados por John Wayne, Robert De Niro e Stanton - de algum modo se desorientam na busca, sem entender bem o papel da mulher.


Wenders é um dos talentos que floresceram por volta de 1970, conhecidos como a nouvelle vague alemã. O cinema e a música dos Estados Unidos sempre o fascinaram; muitos dos seus filmes são ambientados nos Estados Unidos, pelo menos em parte. A música de Paris, Texas é de autoria de Ry Cooder, solitária e distante. A fotografia de Robby Müller mantém a sensação de horizonte distante por trás de todos os planos próximos. Os diálogos de Shepard são destituídos de qualquer floreio e enfeite e revelam a verdade crua longamente elucubrada.


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