domingo, 28 de outubro de 2012

CONTOS DE TÓQUIO (1953) - TÔKYÔ MONOGATARI


Um velho casal chega a Tóquio para visitar filhos e netos. Os filhos estão ocupados e os velhos lhes perturbam a rotina. Sem alarde e sem que ninguém admita, a visita não é agradável.


A história não poderia ser mais simples, mas a partir desses poucos elementos, o diretor Yasujiro Ozu realizou um dos maiores filmes de todos os tempos. Contos de Tóquio é isento de apelo sentimental e de estratagemas emocionais; ele fica bem distante das situações que um filme menor exploraria. O filme não pretende forçar nossas emoções, mas sim compartilhar seu entendimento. Ele enobrece o cinema.


A estratégia visual de Ozu é a mais simples possível (e por isso mesmo tão profunda). Em geral, embora nem sempre, sua câmera está  a um metro do chão (o nível do olhar de uma pessoa japonesa sentada em um tatame). "A razão para o baixo posicionamento da câmera é eliminar a profundidade e tornar o espaço bidimensional", explica o crítico Donald Richie. Assim, o espectador pode apreciar melhor uma composição, porque Ozu lhe permite observar linhas, pesos e tons - que sempre refletem exatamente o que ele sente a respeito da cena.


Ozu quase nunca movimenta a câmera (em Contos de Tóquio ela se movimenta uma vez e isso é mais do que usual em sua obra posterior). Cada tomada é prevista para ter uma perfeita composição própria, ainda que isso implique em erros de continuidade. Todas as tomadas são emolduradas de algum modo. No primeiro plano das tomadas internas, talvez enfiada em um canto, aparece uma pequena chaleira. Ozu adora essa chaleira. É como a assinatura em vermelho, impressa por um escultor japonês em uma peça de madeira; é sua marca de autor.


Em um filme de Ozu o movimento, quando existe, vem da natureza ou das pessoas, não da câmera. Muitas vezes ele mostra um aposento antes da chegada das pessoas e torna a exibi-lo depois que elas saem. Se os personagens sobem uma escada, sua ausência perdura exatamente o tempo dessa subida. Se um personagem está falando, ele mostra a fala inteira. Nada de cortes, cenas de escuta, diálogos sobrepostos. Ele parece se sentir confortável com os silêncios. Às vezes os personagens falam pouco e dão muito a entender; em Contos de Tóquio, o velho pai sorri com frequência e diz "sim" às vezes querendo dizer sim, outras vezes não, às vezes expressando profunda tristeza, outras vezes como decisão de guardar para si os sentimentos.


Um estilo refinado e elegante como o de Ozu coloca as pessoas em primeiro plano; focaliza as minúcias da vida diária. Seu estilo é o mais humanista de todos, ao remover toda a maquinaria de efeitos e montagens, preferindo nos tocar pelos sentimentos humanos e não pela mecânica da técnica narrativa


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