Em 1900, em um dia de São Valentim, um grupo de alunas de um rígido internato da Austrália vai passar o feriado em Hanging Rock, um pequeno afloramento geológico a pequena distância da escola. Três das garotas e uma professora desaparecem misteriosamente. Uma das meninas é achada cerca de uma semana mais tarde, quase sem se lembrar do que aconteceu. As outras jamais são encontradas.
Com base nesta história, o diretor Peter Weir construiu um filme de mistério assombroso e de velada histeria sexual, empregando ainda duas marcas registradas do cinema australiano no período: bela cinematografia e histórias sobre o abismo que separa ps povoadores europeus e os mistérios de sua velha morada.
O filme esteve por longo tempo fora do circuito e indisponível até em vídeo, mas foi restaurado e o diretor lhe deu novo formato, cortando partes, em vez de acrescentar como em geral acontece na maioria das revisões. Weir amputou sete minutos da obra, que na versão original já era seca e evasiva. O resultado é um filme que cria um lugar específico na mente do espectador; isento de trama, desprovido de explicações finais, ele existe enquanto experiência. Em certo sentido, nós, os expectadores , somos como as garotas que foram fazer o piquenique e voltaram sãs e salvas: para nós, bem como para elas, os personagens que sumiram permanecem para sempre congelados no tempo, movimentando-se fora de nosso alcance sumidos para sempre.
O filme se baseia em um romance de 1967, de autoria de Lady Joan Lindsay, então com 71 anos, que o apresentou como ficção, porém deixou entrever que talvez retratasse fatos reais. Uma indústria caseira cresceu na Austrália em torno desse romance e desse filme; velhos jornais e outros registros foram vasculhados sem êxito à procura de relatos de sumiços de estudantes. Muito se comentou que o dia de São Valentim de 1900 não caiu num sábado; as garotas teriam desaparecido em alguma outra linha do tempo? Ou teriam sido violentadas pelos dois adolescentes que também estavam em Hanging Rock naquele dia? Teriam simplesmente caido em alguma fissura na rocha? E o que dizer da garota encontrada uma semana depois? Ela perdera os sapatos, mas seus pés não estavam machucados pela caminhada sobre as pedras pontiagudas. Teria levitado? Surgiu até um livro, The Murders at Hanging Rock, explicando que os desaparecimentos eram ficção, mas em todo caso propondo diversas teorias para o acontecido, inclusive abdução por objetos voadores não identificados.
Naturalmente, a verdade é que não há explicação. As menina foram passear em locais desertos e não tornaram a ser vistas. Os aborígenes talvez especulem que a montanha era de alguma forma viva - teria engolido as forasteiras e guardado silêncio. Enquanto a câmera de Russell Boyd examina a montanha em detalhes exuberantes e íntimos - cobras, lagartos, pássaros e flores -, certas tomadas parecem sugerir rostos na montanha , como se os visitantes estivessem sendo observados.
"Nós nos esforçamos muito para criar um ritmo alucinante e magnético, para o expectador perder a consciência dos fatos, não tirar conclusões e penetrar nessa atmosfera fechada. fiz o possível para hipnotizar a platéia contra a possibilidade de soluções", declarou Weir a um entrevistador.
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