Christy Brown (Daniel Day-Lewis), o filho de uma humilde família irlandesa, nasce com uma paralisia cerebral que lhe tira todos os movimentos do corpo, com a exceção do pé esquerdo. Com apenas este movimento Christy consegue, no decorrer de sua vida, se tornar escritor e pintor.
Apesar do forte potencial para depressão sentimentalista, Meu pé esquerdo acabou sendo uma celebração surpreendentemente divertida, natural e enriquecedora sobre o irlandês Christy Brown. Daniel Day-Lewis está arrebatador em um papel tão distante quanto possível de seu esteta afetado em Uma janela para o amor (1986) ou do oportunista de Minha adorável lavanderia (1985).
O diretor estreante Jim Sheridan consegue uma autêntica façanha: deu emoção e dignidade a uma história que poderia facilmente descambar para o melodrama apelativo. Ele não se esquiva de mostar a tragédia e a raiva na vida de Christy, um espírito sagaz confinado à cadeira de rodas e submetido a humilhações diárias. A impressão geral desse homem, contudo, nos deixa um admirável sentido do milagre da vida e da formidável energia de Christy. Isso é ressaltado pela qualidade mágica infundida nos menores incidentes, como o fascínio demonstrado pelo personagem, ainda criança, quando é levado pelos irmãos e irmãs às brincadeiras de Halloween pelas ruas.
O famoso pé esquerdo, única parte do corpo que ele podia controlar, é central em diversas piadas, bem como em episódios dramáticos: Christy salva a vida de sua mãe, faz gols, pinta, derruba um adversário em uma briga de bar, tenta o suicídio, assenta tijolos e digita sua autobiografia, tudo com o pé esquerdo. Daniel Day-Lewis acabou sendo o vencedor de um Oscar que não poderia lhe ser negado. Tendo dominado as dificuldades físicas de lidar com um corpo tão tortuoso e com a fala defeituosa, ele nos dá o retrato de um homem cuja perspicácia lhe traz pouco alívio, mas cujo humor, desejo sexual e total teimosia iluminam aquilo que poderia ter sido apenas angustiante.
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