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sexta-feira, 2 de novembro de 2012

CANTANDO NA CHUVA (1952) - SINGIN'IN THE RAIN


Gene Kelly é Don Lockwood, dançarino e ator, galã dos filmes de romance e paixão, o ídolo das matinês. Mas, na vida real, seu relacionamento com a atriz com a qual contracena, Lina Lamont (Jean Hagen), não vai bem. Ele prefere a companhia da aspirante à atriz Kathy Selden (Debbie Reynolds), que conheceu enquanto escapava de suas fãs.


Não existe um musical mais divertido do que Cantando na chuva, e poucos continuam, ao longo de todos estes, tão atuais. A sua originalidade é surpreendente se refletirmos que somente uma de suas canções foi composta especialmente para o filme, que os produtores saquearam os armazéns da MGM à cata de cenários e acessórios, e que, originalmente, foi classificado como inferior a Sinfonia de Paris, que ganhou um Oscar como melhor filme. O veredicto dos anos é mais sábio do que o da Academia: Cantando na chuva é uma experiência transcendente, e todo aquele que ama o cinema não pode se dar ao luxo de perdê-lo.


O filme é acima de tudo alegre e feliz. Seus três astros - Gene Kelly, Donald O'Connor e Debbie Reynolds, então com 19 anos - devem ter ensaiado incansavelmente para os seus números de dança, que envolvem alarmantes acrobacias, mas que na sua apresentação são vertiginosamente arrebatadoras. O número de dança "Singin'in the rain" do encharcado Kelly é "a mais memorável performance de dança num filme", escreveu Peter Wollen , numa monografia para o Brtitish Film Institute.


Um do prazeres deste filme é que ele realmente versa sobre alguma coisa. Claro que se trata de romance, como de praxe na maioria dos musicais, mas é também sobre a indústria cinematográfica num período em que ela experimentava uma perigosa transição. O filme simplifica esta transição, ao mostrar a mudança do cinema mudo para o falado, porém não a falseia. Sim, câmeras foram colocadas em cabines à prova de som, pois eram barulhentas demais, e os microfones foram ocultados de nossas vistas. E, claro, o público riu durante a sua pré-estréia assim que ouviu, pela primeira vez, a voz dos atores e atrizes famosos; "A Garbo fala!", prometiam os cartazes, mas John Gilbert, seu coadjuvante, teria aparecido bem melhor se não tivesse que abrir a boca. O filme abre e fecha anunciando furtivamente a sua pré-estréia para avaliar a reação do público, tem sequências em palcos musicais e em estúdios de mixagem, e zomba com a forma utilizada pelos estúdios para criar romances entre seus astros e estrelas.


Quando o produtor Arthur Fred e os roteiristas Betty Comden e Adolph Green foram indicados para o projeto da MGM, receberam a incumbência de reciclar um grupo de canções que já pertenciam ao estúdio, na sua grande maioria compostas por Lennie Hayton em parceria com Nacio Herb Brown. Comden e Green notaram que as canções vinham de um período em que os filmes mudos estavam perdendo espaço para os filmes sonoros, e então decidiram fazer um filme a respeito desta mudança. Isto abriu caminho para a personagem de Lina Lamont (Jean Hagen), a atordoante loira com voz de unhas arranhando um quadro negro.


Hagen, na verdade, tinha uma voz perfeitamente aceitável, que todo mundo em Hollywood conhecia; talvez isto a tenha ajudado a ser indicada pela Academia para melhor atriz coadjuvante. (Numa descarada ironia, ela dublou a voz melodiosa de Debbie Reynolds na cena em que a personagem da própria Debbie é mostrada atrás da tela cantando no lugar de Hagen !).


Kelly foi o cérebro por detrás do formato final do número de "Singin'in the rain", de acordo com Wollen. O roteiro original o posicionava perto do final, e deveria incluir os três protagonistas (que podem ser vistos cantando juntos sob os créditos de abertura do filme). Kelly o puxou para si em formato solo, mudando-o para ser apresentado logo depois que ele e a jovem Kathy Selden ( Reynolds) percebem que estão se amando. Kelly gostava de planejar números que lançassem mão de todos os acessórios e das locações que estivessem por perto. Ele dança com o guarda-chuva, dança agarrando um poste, com um pé sobre o meio fio e o outro no fio de água da sarjeta, e, no ponto alto da sequência, simplesmente pula para cima e para baixo numa poça d'água.


O encanto de Cantando na chuva contínua, pois os musicais de Hollywood não aprenderam nada com o seu exemplo. Em vez de continuarem produzindo filmes originais e específicos como este, Hollywood começou a produzir musicais requentados de sucessos da Broadway. isto não funcionou, pois a Broadway objetivava uma audiência mais amadurecida. A maioria dos bons musicais modernos se inspirou em novas melodias, como aconteceu com os reis do iê-iê-iê, Os embalos de sábado à noite, Pink Floyd-The wall. Entrementes, Cantando na chuva continua sendo um dos poucos filmes de acordo com sua propaganda. "Que sensação gloriosa !", diziam os cartazes. Era a pura verdade.



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