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domingo, 7 de outubro de 2012

RASTROS DE ÓDIO (1956) - THE SEARCHERS



Ethan Edwards, (John Wayne) é um veterano do exército confederado que odeia índios e acredita mais em balas do que em palavras. Sua vida corre tranquila até ter sua família massacrada e a sobrinha raptada por comanches. Ele parte então para sua maior batalha. Ele enfrenta o frio, a fome a solidão, e todos os perigos do Oeste selvagem em uma busca obsessiva por vingança. 


Rastros de ódio, de John Ford, contém cenas magníficas, além de um dos melhores desempenhos de John Wayne. Algumas tomadas são de uma beleza espantosa. A revista New York dedicou-lhe matéria de capa e o classificou como o filme mais influente da história dos Estados Unidos. E, no entanto, a questão central do filme é difícil porque o personagem de Wayne é um racista indesculpável - e os demais personagens brancos também, de modo menos declarado. Hoje, é possível olhar o filme de maneira mais esclarecida, porém, em 1956, muitas platéias aceitavam aquela maneira cruel de encarar os índios.


O filme trata de uma busca obsessiva. Ethan leva cinco anos em uma busca solitária, caçando a tribo que guarda a sua sobrinha Debbie (Natalie Wood) - não para resgatá-la, mas sim para matá-la porque ela teria se tornado "lixo de um macho comanche". Ford sabiaque o ódio de seu herói em relação aos índios era errado, porém ao glorificar a busca de Ethan acaba incitando a admiração por um homem com mente deturpada. Defensores do filme destacam a famosa cena em que Ethan abraça a sobrinha, em vez de matá-la. Será que uma cena consegue redimir um filme?


A busca de Ethan inspirou uma das linhas da trama de Guerra nas Estrelas, de George Lucas. Também é o centro de Taxi Driver, de Martins Scorsese, escrito por Paul Schrader, que tornou a utilizá-la em Hardcore, o submundo do sexo, de sua autoria. O herói dos roteiros de Schrader é um solitário levado à violência e à loucura pela missão de resgatar uma jovem branca, vítima sexual de seres considerados de categoria inferior. Em Paris, Texas Wim Wenders reelabora a história de Ford, fazendo Harry Dean Stanton sair em busca de Nastassja Kinski.


Rastros de Ódio foi realizado no apagar das luzes dos faroestes clássicos, cuja decadência se deu quando os índios deixaram de ser retratados como selvagens. Faroestes revisionistas, entre os quais Crepúsculo de uma raça (1964), do próprio Ford, adotaram uma visão mais esclarecida sobre nativos norte-americanos, porém o público desses filmes não queria complexidade moral: esperava ver em ação indivíduos decididamente perversos, assim como os espectadores dos thrillers de violência e de guerras urbanas dos dias de hoje.


Ethan Edwards, violento, solitário, soldado derrotado sem função em tempos de paz, é um dos personagens mais convincentes criados por Ford e Wayne. Será que eles sabiam quanto as atitudes de Ethan eram desprezíveis? Provavelmente sim, porque na vida pessoal Wayne era desprovido de preconceitos raciais e porque Ford realizou filmes com opiniões mais simpáticas em relação aos índios. Não se trata do racismo inconsciente e instintivo de Griffith em O nascimento de uma nação. Inúmeros faroestes tiveram o racismo como premissa não explícita; este o focaliza conscientemente. A redenção de Ethan deveria ser mostrada na cena dramática do encontro de Debbie, quando ele a aperta entre as mãos grandes, ergue-a em direção ao céu e aninha nos braços dizendo: "Vamos para casa, Debbie". A cena é famosa e muito apreciada, mas representa um pequeno contraponto às opiniões de Ethan durante o filme - e, na verdade, não há indício algum de que ele tenha mudado de opinião em relação aos índios.


Para muitos membros das platéias originais, o racismo de Ethan era invisível porque compartilhavam da mesma visão sobre os índios. Mas na visão falha de rastros de ódio podemos perceber Ford, Wayne e o próprio faroeste aprendendo de modo canhestro que um homem que odeia os índios não pode mais ser um herói.



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