OS GRANDES FILMES, ATORES, ATRIZES e DIRETORES DO SÉCULO XX.
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Conde Karamzin (Erich von Stroheim), um pseudo-aristocrata sem escrúpulos vive dando golpes na alta sociedade Européia. Seu próximo alvo é seduzir a esposa mal-amada de um diplomata americano.
Ouro e maldição é o filme mais famoso do diretor Erich von Stroheim, mas Esposas ingênuas é sua obra-prima. Filme sagaz e de uma objetividade implacável, confirma seu diretor como o primeiro grande ironista do cinema. O anti-herói Karamzin é apresentado como uma figura cínica, descaradamente hipócrita e, quando o circo pega fogo, de uma covardia desprezível. Porém, ele e seus amigos são muito mais divertidos do que o marido americano cheio de virtudes e sua esposa insossa.
O tom de fria indiferença do filme é realçado pela elaboração exaustiva do mundo que cerca que os personagens, articulando o espaço através de estratégias visuais (como camadas sobrepostas de profundidade, movimentos periféricos e arranjos múltiplos) que dão ao expectador uma perspectiva intensa de todo o panorama das cenas. São raros os planos que não encantam com sua interação rica e brilhante entre detalhes, iluminação, gestos e movimentos.
Suécia, véspera de Ano Novo. Três bêbados evocam uma lenda que afirma que se a última pessoa a morrer no ano for uma grande pecadora, ela irá guiar a carruagem fantasma que recolhe as almas dos mortos.
Sucesso mundial quando lançado, A carruagem fantasma não só estabeleceu a fama do diretor-escritor Victor Sjöström e do cinema mudo sueco como também exerceu forte influência artística em muitos grandes diretores e produtores.
Através de uma série de sobreposições simples, porém trabalhosas e meticulosamente ensaiadas, o cineasta, seu fotógrafo e o chefe do laboratório criaram a ilusão tridimensional de um mundo fantasmagórico que foi além de qualquer coisa vista no cinema até então.
Mais importante, talvez, seja a narrativa complexa, porém acessível, do filme por meio de uma série de flashbacks - e até de flashbacks dentro de flashbacks - que eleva esta vigorosa história de pobreza e degradação à excelência poética.
Durante o Renascimento, em pleno domínio dos Bórgia, Don Juan é um aventureiro que está sempre a procura do amor ideal.
Superprodução do cinema mudo, que apresenta pela primeira vez alguns efeitos sonoros através do sistema Vitaphone.
É uma elegante mistura de aventura e comédia que, além de mostrar John Barrymore (Grande Hotel) em plena forma, nos brinda com atores famosos na época, como Werner Oland, no papel de César Bórgia, Estelle Taylor, como Lucrécia, e Myrna Loy, como Mai.
Convidados de honra para um banquete, os irmãos Marx colocam a festa de pernas para o ar, aterrorizando os participantes, e, de quebra, impedem roubo de valioso quadro.
Segundo filme do grupo, em produção adaptada de musical da Broadway, escrito por George F. Kauffman. Há cenas hilariantes e os Marx fazem rir o tempo todo com suas piadas meio surrealistas: Groucho com seu linguajar afiado; Harpo e seus impagáveis números musicais.
Chico participa da melhor sequência do filme - a do jogo de bridge.
Ahmed, chefe árabe e galanteador, apaixona-se por lady inglesa. Sequestrada por uma tribo rival, a jovem obriga o Sheik a empreender uma tumultuada viagem através do deserto.
Veículo para o carisma de Rudolfo Valentino, um dos mais populares galãs de Hollywood. Latin Lover assumido, nascido na Itália, Valentino era sempre apresentado em ambientes exóticos e procurava conciliar histórias melodramáticas com gestos galantes e expressões exageradas.
Este filme não foge a regra; aliás, foi o filme que firmou seu mito. É uma aventura romântica que serve apenas para conferir o carisma do ator.
Estudante tímido é ridicularizado na faculdade pelos alunos veteranos.
Comédia movimentada que pertence à melhor fase da carreira de Harold Lloyd, culminando com uma longa e divertida sequência de futebol americano em que o patinho feio vira herói.
Mulher casada com homem ciumento provoca uma tragédia ao dar um beijo inocente em amigo da família e acaba sendo acusada de assassinato.
Drama de tribunal especialmente realizado para o estrelismo de Greta Garbo, com história bem construída e estrutura moderna para a época: a narrativa é toda em flash-backs, as sequências são curtas e a interpretação dos atores bastante contida.
Este é o último filme mudo de Garbo (que está belíssima).
No início da Era Cristã, Ben-Hur, de uma rica família hebréia, entra em conflito com seu amigo de infância, o romano Massala, e torna-se sucessivamente escravo e legionário romano até converter-se ao cristianismo.
Segunda versão do famoso romance de Lew Wallace ( existe uma de 1907 ), em uma produção suntuosa no que foi considerada a produção mais cara da época ( o custo médio de um longa metragem era de 160 mil dólares; Ben-Hur custou aos cofres da MGM 4 milhões de dólares!).
Apesar das limitações estilísticas - os gestos grandiloquentes dos atores, sequências demasiado longas -, o diretor Fred Niblo revela amplo domínio da linguagem cinematográfica; cenas famosas como a batalha naval e a corrida de bigas tornaram-se referências obrigatórias para outros filmes do gênero.
Durante a Guerra Civil, maquinista recupera ( para si e não para o exército confederado ) a locomotiva General, que os soldados da união haviam roubado.
Buster Keaton fez vários filmes que podem ser incluídos entre os melhores ( e mais engraçados ) de toda a produção cômica do cinema, porém nenhum deles é mais forte candidato ao primeiro lugar do que esta obra-prima atemporal.
A General é um épico da comédia do cinema mudo, um dos filmes mais caros de sua época, incluindo uma acurada recriação de um episódio da Guerra Civil, centenas de figurantes, sequências perigosas de dublês e uma locomotiva caindo de verdade de uma ponte em chamas num desfiladeiro. Foi inspirado em um acontecimento real, "A Grande Caçada da Locomotiva", e William Pittenger, maquinista que esteve envolvido no evento, participou da elaboração do roteiro.
Nascido em 1895, o mesmo ano do nascimento do cinema, Keaton foi criado no meio de uma família que se dedicava ao vaudeville. Como parte da apresentação, ele era jogado para dentro do palco, e aprendeu suas habilidades físicas num doloroso aprendizado durante a infância. keaton começou a trabalhar em filmes com Fatty Arbuckle em 1917, e dirigiu seus primeiros curtas em 1920. Em menos de uma década, de 1920 a 1928, criou uma consistência de trabalho que se equipara à de Chaplin ( alguns até acham que ultrapassa ), mas com muito menos recursos, pois nunca foi tão popular ou bem-sucedido como o Adorável Vagabundo.
Ouro e maldição, de 1924, de Erich von Stroheim, tal como a Vênus de Milo, é aclamado como um clássico, não obstante o seu criador considerar que lhe façam falta algumas partes essenciais. A sua infeliz história é sobejamente conhecida. A versão original de von Stroheim tinha mais de nove horas de duração, Depois de ter sido cortado, cortado de novo, e cortado, foi exibido com aproximadamente 140 minutos, numa versão que Stroheim se recusou a aceitar - e que inspirou uma queda-de-braço com Louis B. Mayer. Mas foi com essa versão que o filme acabou sendo considerado um dos mais importantes de todos os tempos.
A fonte inspiradora de Ouro e maldição foi McTeague, um romance de Franl Norris sobre um rude e simplório filho de um mineiro beberrão, que aprende odontologia com um charlatão, vai para San Francisco, casa-se com uma mulher sovina e termina no Vale da Morte, próximo do corpo do seu rival. Era uma desoladora e sardônica história para os tempestuosos anos 1920, e nem Mayer nem Irving Thalberg, seu novo sócio na MGM, imaginaram que o público se interessaria por ela - principalmente numa versão de nove horas.
Para von Stroheim, um militar de disciplina rigorosa e que ostentava o comportamento, as roupas e o monóculo de um oficial prussiano, a oposição deles mais parecia uma maldição sem fim a persegui-lo. Thalberg, que trabalhava na Universal em 1922, cortara dois terços do filme de Stroheim Esposas ingênuas, além de ter-lhe tirado das mãos o filme Redemoinho da vida. Ele então foi para a MGM realizar Ouro e maldição, que custou 750 mil dólares e levou um ano para ser rodado, somente para que Thalberg o apanhasse lá e exigisse mais cortes.
As sete horas do filme que foram cortadas são conhecidas como o Santo Graal do cinema. Aparentemente, foram destruídas para recuperar o extrato de prata usado na sua confecção. O que sobrou do filme fez uma carreira decente na década de 1920, sendo restaurado mais tarde por Kevin Brownlow, um historiador do cinema mudo; é esta a versão que é considerada como uma obra-prima.
Nos anos 90, uma ambiciosa nova abordagem foi feita com o material pelo restaurador de filmes Rick Schmidlin, que descobriu um tesouro de Fotos Still originais e uma cópia de 330 páginas do roteiro original das filmagens. Ele pegou este material e o editou junto com os rolos que sobreviveram para produzir uma versão de quatro horas.
A carreira de Napoleão Bonaparte desde 1870, quando adolescente, até 1796, como comandante de campanha na Itália.
Épico que é um marco do cinema. Restaurado graças ao historiador Kevin Brownlow, surpreende o espectador de hoje com seu uso de recursos como a divisão da tela, câmera na mão, super-posições, etc.
É formado por seis blocos, cada um quase um filme em si, começando pela antológica sequência da batalha de bolas de neve. O diretor Abel Gance, que escreveu o roteiro e faz uma aparição como o revolucionário St. Just, dirige com maestria, sempre achando lugar para a poesia e a beleza.
Ninguém pode dizer que conhece a história do cinema mudo a menos que conheça o semblante de Renée Maria Falconetti. Num instrumento sem palavras como a câmera, e com a qual os cineastas acreditavam que poderiam apreender a essência dos personagens através de seus semblantes, ver Falconetti em A paixão de Joana D'arc, de Carl Theodor Dreyer, é olhar para os olhos que você nunca esquecerá. Falconetti fez somente este filme. "Talvez seja a mais brilhante representação jamais registrada em um filme", escreveu a crítica Pauline Kael.
Todos os filmes de Dreyer são baseados em obras de ficção ou peças, com exceção de A paixão de Joana d'Arc, que foi baseado essencialmente nas transcrições oficiais das atas do julgamento de Joana. O filme foi realizado apenas oito anos depois de Joana ser canonizada na França e dez anos após o fim da Primeira Guerra Mundial, dois fatos cruciais para a interpretação de Dreyer. Os capacetes utilizados pelos ocupantes ingleses em 1431 lembram os da guerra recente.
A abordagem radical de Dreyer na construção do espaço e a intensidade lenta de seu estilo de câmera móvel tornam este filme "difícil" no sentido de que, como todos os grandes filmes, ele reinventa o mundo desde seus alicerces.
Para o público moderno, que cresceu com filmes nos quais a emoção é transmitida pelo diálogo e mais pela ação do que pelas expressões faciais, um filme como A paixão de Joana d'Arc é uma experiência notável. Nossa simpatia por Joana torna-se tão grande que os métodos visuais de Dreyer - seus ângulos, seus cortes, seus close-ups - não fazem parte de um jogo de estilo, mas se parecem com fragmentos da experiência de Joana.
Exausta, morta de fome, com frio, em constante medo, e somente com dezenove anos quando morreu, ela vive um pesadelo onde os rostos de seus atormentadores aparecem como demônios espectrais. A paixão de Joana d'Arc continuará vivendo por muito tempo depois que a maioria dos filmes comerciais tiverem se pagado de nossa memória.
Expedição vai ao Amazonas comprovar a existência de dinossauros; de volta a Londres, o brontossauro que trouxeram foge e aterroriza a cidade.
Adaptação da história de Conan Doyle, notável sobretudo pelos ótimos efeitos especiais de Willis OBrien. Toques de humor na narrativa ajudam, bem como a atuação de Wallace Beery, exagerada mas eficiente, no papel do excêntrico professor Challenger. O final antecipa King Kong.
Encouraçado Potenkim, de Sergei Eisenstein, já é tão famoso há tanto tempo que se torna quase impossível encontrar alguma coisa nova para ser comentada. Trata-se de um dos marcos do cinema. Seu famoso massacre nas escadarias de Odessa já foi tantas vezes citado em outros filmes ( particularmente em Os intocáveis), que muitas platéias seguramente já viram a paródia antes de conhecer o original.
O filme oi encomendado pela liderança da revolução soviética para comemorar os 20 anos do levante do Potemkin, que Lenin considerava como a primeira prova de que poderia contar com o apoio das tropas ao proletariado para a derrubada da velha arte. Como esboçado no filme de Eisenstein, a tripulação do encouraçado, cruzando pelo Mar Negro se amotinou em razão de suas miseráveis rações.
Assim que os oficiais cobriram com um encerado um grupo de revoltosos e ordenaram que fossem executados a tiros, um marinheiro chamado Vakulinchuk gritou: "Irmãos! Contra quem vão atirar?". O pelotão de fuzilamento baixa suas armas e o motim se espalha pelo navio.
No continente, notícias sobre o levante se espalharam entre a população que por tanto tempo sofrera com a opressão do regime czarista. Ela providenciou o envio de comida e aguá para o encouraçado por intermédio de uma flotilha de pequenos barcos. Em seguida, numa das sequências mais famosas da história do cinema, aparecem as tropas descendo numa implacável formação czarista um interminável lance de escadas, atirando nos cidadãos que tentavam fugir, num fluxo aterrorizante.
O fato de que na verdade não houve o massacre das escadarias de Odessa não apagou a dramaticidade da cena. As tropas do Czar realmente atiraram em inocentes em alguns lugares de Odessa, e Eisenstein faria o seu trabalho como diretor ao concentrar essas matanças e encontra a perfeita sintonia cinematográfica para elas. É uma ironia que ele tenha representado tão bem a ponto de a matança das escadarias de Odessa ser sempre citada, como se tivesse realmente acontecido.
Encouraçado Potemkin foi concebido como propaganda para a conscientização revolucionária da classe, e Sergei Eisenstein deliberadamente evita a criação de qualquer personalidade em três dimensões ( até Vakulinchuk é mais exaltado como um símbolo ). Ao invés disso, massas de homens se movem em uníssono, como nas inúmeras tomadas do alto, sobre a proa do Potemkin. O povo de Odessa também é filmado como uma massa vista de relance, mas com rostos expressivos. Não há qualquer enredo pessoal para contrabalancear o importante drama político.
O encouraçado Potemkin é um filme muitas vezes visto de forma editada ou reduzido às suas cenas e sequências mais famosas. descobrir o impacto de se assistir ao filme na íntegra - ou seja, como uma história dramática e comovente - ,em vez de tratá-lo como uma inestimável caixa de jóias de onde se tiram preciosidades isoladas ao bel-prazer, pode causar surpresa.