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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

AMARCORD (1973)


Numa pequena cidade italiana na década de 30, sob o domínio do fascismo , várias histórias se cruzam com as de uma família cujos membros assistem às manifestações en honra do Duce Benito Mussolini, à passagem do transatlântico Rex, à chegada de um misterioso emir e suas odaliscas, aos filmes de Gary Cooper no cinema local e à passagem dos grandes pilotos da tradicional Mile Miglia.


Se já houve algum filme feito inteiramente por nostalgia e alegria, por um cineasta no auge de seu talento, esse filme é Amarcord, de Federico Fellini. O título significa "eu me lembro" no dialeto de Rimini, a cidade à beira-mar da juventude do diretor, mas retrata "memórias" de memórias, transformadas pelo afeto e pela fantasia e muito valorizadas pela narrativa. Fellini reúne as lendas de sua juventude onde todos os personagens parecem maiores e menores que na vida real - atores brilhando em seus palcos particulares.


Amarcord assemelha-se a um longo número de dança, interrompido por diálogos, festas públicas e banquetes. É construído em forma de um passeio turístico ao longo de uma ano na vida da pequena cidade, iniciando-se em uma primavera e terminando na seguinte. Há vários narradores, inclusive um velho apalermado que visivelmente esquece as falas e um professor que faz palestras eruditas sobre o passado histórico da cidade. Entre os outros narradores estão as vozes cantantes das crianças anunciando a primeira florada primaveril dos dentes-de-leão, além de uma voz confidente na trilha sonora - a do próprio Fellini.


Amarcord é o último grande filme de Fellini. Suas outras obras-primas são: A estrada da vida, As noites de cabíria, A doce vida, Fellini oito e meio e Julieta dos espíritos. Realizou outros filmes importantes, mas estes seis revelam o pleno vigor de seu talento. 


O filme de Fellini flui da câmera como fluem as anedotas narradas por alguém que as contou muitas vezes e sabe que funcionam. O subtexto um tanto doce-amargo talvez traduza a suspeita de Fellini de que a atividade cinematográfica estava mudando e que para ele os financiamentos e as oportunidades jamais seriam os mesmos; Amarcord foi o último filme que Fellini realizou obedecendo exclusivamente à sua própria vontade.


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