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sábado, 13 de outubro de 2012

O NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO (1915) - THE BIRTH OF A NATION


Dois irmãos da família Stoneman visitam os Cameron em Piedmont, Carolina do Sul. Esta amizade é afetada com a Guerra Civil, pois os Cameron se alistam no exército Confederado enquanto os Stoneman se unem às forças da União. São retratadas as conseqüências da guerra na vida destas duas famílias e as conexões com os principiais acontecimentos históricos, como o crescimento da Guerra da Secessão, o assassinato de Lincoln e o nascimento da Ku Klux Klan.


Ao mesmo tempo um dos mais reverenciados e repudiados filmes já feitos , O nascimento de uma nação, de D. W. Griffith, é importante pelos mesmos motivos que inspiraram essas reações opostas. Raras vezes um filme mereceu com tanta justiça tamanho louvor e desprezo. 


"Ele realizou o que nenhum outro homem realizou. Admirar sua obra é como testemunhar o início da melodia, ou o primeiro uso consciente da alavanca ou da roda; o surgimento, a coordenação e a primeira eloquência da linguagem; o nascimento de uma - e constatar que tudo isso é obra de um único homem." - Estas palavras de James Agee a respeito de D. W. Griffith são, quase por definição, om maior elogio que um diretor de cinema já recebeu de um grande crítico de cinema. Por outro lado, o igualmente importante crítico Andrew Sarris escreveu sobre o filme de Griffith: "Clássico ou não, O nascimento de uma nação tem sido por muito tempo um dos embaraços da cultura cinematográfica. Não pode ser ignorado...e, contudo, foi considerado um ultraje racista, mesmo em uma época em que o racismo era uma palavra corriqueira".


O racismo que se vê em O nascimento de uma nação não é mais aceito há décadas na cultura popular norte-americana. Os filmes modernos tornam o rascismo invisível, curável, atributo de vilões ou oportunidade para peças de fundo moral otimista. O nascimento de uma nação é indesculpável por suas atitudes, que são as de um sulista branco, criado no século XIX, incapaz de ver os afro-norte-americanos como companheiros de valores e direitos. O filme baseia-se parcialmente na peça racista The Clansman, de Thomas Dixon; e a decisão de Griffith de adaptá-la revela seus próprios preconceitos.


Algumas das cenas mais combatidas do filme mostram a Ku Klux Klan correndo para resgatar uma família branca presa em uma cabana por negros sexualmente predatórios e seus dominadores brancos. Hoje ficamos chocados ao assisti-las. Mas as platéias de 1915 estavam testemunhando a invenção dos cortes cruzados em uma cena de perseguição. Até então jamais fora visto algo semelhante: ações paralelas construindo um clímax de suspense. Estavam todos em êxtase.


Hoje não se vê mais o que aquelas pessoas viram pela primeira vez. Griffith reuniu e aperfeiçoou as primeiras descobertas da linguagem cinematográfica e suas técnicas cinemáticas influenciaram as estratégias visuais de praticamente todos os filmes produzidos desde então; tornaram-se tão conhecidas que nem as notamos.


Que técnicas são essas? Começam no nível da gramática cinematográfica. O cinema silencioso começou com técnicas toscas destinadas apenas a olhar para uma história que se desenrolava diante da câmera. Griffith, com seus curtas e longas-metragens, inventou ou incorporou tudo o que parecia funcionar para expandir aquela visão. Não criou a linguagem do cinema, mas codificou-a e demonstrou-a; assim, depois dele, tornou-se uma convenção os diretores narrarem uma cena intercalando planos gerais (ou "Establishing shots") e vários planos médios, close-ups e inserções de detalhes.


Uma das contribuições essenciais de Griffith foi o uso pioneiro do corte cruzado para acompanhar linhas de ações paralelas. As platéías ingênuas devem ter ficado atônitas com um filme que mostrava primeiro um grupo de personagens, em seguida outro, e novamente o primeiro. Do êxito de Griffith em utilizar tal técnica derivam as cenas de perseguição e muitas outras abordagens narrativas modernas. O crítico Tim Dirks acrescenta ao corte transversal nada menos que dezesseis outros meios em que Griffith foi inovador.


Griffith tem mão firme na maneira de cortar de cenas épicas de enormes proporções para pequenas vinhetas humanas. Foi o primeiro diretor a entender instintivamente que um filme poderia imitar a habilidade humana de decompor depressa um acontecimento, assimilando detalhes do interior de uma imagem maior. Muitos filmes mudos moviam-se lentamente , como se temessem se adiantar às platéias; Griffith avança com ímpeto, e o impacto em suas platéias foi sem precedentes - pela primeira vez elas aprendiam do que um filme era capaz

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A escravidão foi o maior pecado Estados Unidos, assim como O nascimento de uma nação foi o maior pecado de Griffith, pelo qual ele tentou se desculpar pelo resto da vida. Tão instintivos eram os preconceitos com que ele foi criado enquanto sulista no século XIX, que na verdade as ofensas de seu filme precisaram ser-lhe explicadas. A seu favor, o filme seguinte, Intolerância, foi uma tentativa de pedido de desculpas. Certa vez ele também editou uma versão do filme cortando todo o material sobre a Klan, mas isso não serve de resposta. Se for para assistir a este filme, é preciso assistir e estudá-lo na íntegra.



 

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