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terça-feira, 14 de agosto de 2012

RASHOMON (1950)


Japão, século XI. Durante uma forte tempestade, um lenhador (Takashi Shimura), um sacerdote (Minoru Chiaki) e um camponês (Kichijiro Ueda) procuram refúgio nas ruínas de pedra do Portão de Rashomon. O sacerdote diz os detalhes de um julgamento que testemunhou, envolvendo o estupro de Masako (Machiko Kyô) e o assassinato do marido dela, Takehiro (Masayuki Mori), um samurai. Em flashback é mostrado o julgamento do bandido Tajomaru (Toshirô Mifune), onde acontecem quatro testemunhos, inclusive de Takehiro através de um médium. Cada um é uma "verdade", que entra em conflito com os outros.


Rashomon atingiu o mundo como um raio. Dirigido por Akira Kurosawa, ainda nos primeiros anos de sua carreira, antes de ele ser saudado como um grande mestre, o filme foi produzido com relutância por um estúdio japonês de pequeno porte e contou com o sério desagrado do chefe do estúdio, que removeu seu nome dos créditos.


Em seguida conquistou o Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza, abrindo de fato as fronteiras do mundo ocidental para o cinema japonês. Conquistou o prêmio da Academia na categoria de melhor filme estrangeiro e foi recorde de bilheteria para um filme legendado nos Estados Unidos.


Pela primeira vez utilizavam-se flashbacks discordantes sobre a ação que estava sendo vista em retrospectiva. Assim se obtinham relatos na primeira pessoa de testemunhas oculares que diferiam radicalmente - um dos quais proveniente do além-túmulo. O filme termina com três assassinos confessos e nenhuma solução.


Desde 1950 essa estratégia de Rashomon foi imitada repetidas vezes; Stuart Galbraith em The Emperor and the wolf, abrangente análise da carreira de Kurosawa e de seu ator favorito, Toshiro Mifune, cita Coragem sob Fogo, mas com certeza também influenciou Os suspeitos, ao nos mostrar flashbacks que contrariam qualquer realidade objetiva. Ao "vermos" os eventos em flashback, assumimos que refletem a verdade. Eles, porém, só refletem um ponto de vista, às vezes mentirosos.


Os filmes inteligentes sabem disso e os menos ambicioso, não. Muitos filmes que utilizam flashback apenas para introduzir informações são preguiçosos. A genialidade de Rashomon é que todos os flashbacks são verdadeiros e falsos ao mesmo tempo. Verdadeiros, enquanto apresentam um retrato acurado daquilo que cada testemunha acha que aconteceu. Falsos porque, como Kurosawa observa em sua autobiografia, "o ser humano é incapaz de ser honesto consigo mesmo. Ninguém consegue falar de si sem embelezar". 

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