Ninguém pode dizer que conhece a história do cinema mudo a menos que conheça o semblante de Renée Maria Falconetti. Num instrumento sem palavras como a câmera, e com a qual os cineastas acreditavam que poderiam apreender a essência dos personagens através de seus semblantes, ver Falconetti em A paixão de Joana D'arc, de Carl Theodor Dreyer, é olhar para os olhos que você nunca esquecerá. Falconetti fez somente este filme. "Talvez seja a mais brilhante representação jamais registrada em um filme", escreveu a crítica Pauline Kael.
Todos os filmes de Dreyer são baseados em obras de ficção ou peças, com exceção de A paixão de Joana d'Arc, que foi baseado essencialmente nas transcrições oficiais das atas do julgamento de Joana. O filme foi realizado apenas oito anos depois de Joana ser canonizada na França e dez anos após o fim da Primeira Guerra Mundial, dois fatos cruciais para a interpretação de Dreyer. Os capacetes utilizados pelos ocupantes ingleses em 1431 lembram os da guerra recente.
A abordagem radical de Dreyer na construção do espaço e a intensidade lenta de seu estilo de câmera móvel tornam este filme "difícil" no sentido de que, como todos os grandes filmes, ele reinventa o mundo desde seus alicerces.
Para o público moderno, que cresceu com filmes nos quais a emoção é transmitida pelo diálogo e mais pela ação do que pelas expressões faciais, um filme como A paixão de Joana d'Arc é uma experiência notável. Nossa simpatia por Joana torna-se tão grande que os métodos visuais de Dreyer - seus ângulos, seus cortes, seus close-ups - não fazem parte de um jogo de estilo, mas se parecem com fragmentos da experiência de Joana.
Exausta, morta de fome, com frio, em constante medo, e somente com dezenove anos quando morreu, ela vive um pesadelo onde os rostos de seus atormentadores aparecem como demônios espectrais. A paixão de Joana d'Arc continuará vivendo por muito tempo depois que a maioria dos filmes comerciais tiverem se pagado de nossa memória.
Nenhum comentário:
Postar um comentário