Ascensão e queda do exilado cubano Tony Montana (Al Pacino), que ao lado de seu Manny Ray, consegue construir um império criminoso dentro da cidade de Miami.
Montana é um desses personagens essenciais do moderno cinema americano, inspirador de inúmeros outros. Ele tem sido tão imitado que é difícil compreender como pareceu original em 1983, quando os personagens latinos eram raros, a cocaina ainda não era um clichê e as sequências do auge do tiroteio final ainda não eram triviais.
O filme adota o nome e uma parte da estrutura da história do famoso Scarface, a vergonha de uma nação (1932), de Howard Hawks, estrelado por Paul Muni e inspirado na vida de Al Capone. Ambos os filmes foram acusados de violentos, ambos tratam da ascensão e queda de um empreendedor criminoso, ambos os personagens são obcecados por suas irmãs e ambos morrem porque usaram o próprio produto: cocaína, no caso de Montana, e prostitutas, no caso do sifilítico Al Capone.
Porém, o filme do diretor Brian de Palma não é uma refilmagem no sentido convencional; parte de um conhecido arcabouço histórico, talvez contendo ecos de Macbeth, e usa-o para analisar um novo personagem em um novo terreno - a Flórida do início da década de 1980, depois do breve período em que Fidel Castro permitiu a emigração em larga escala de sua ilha, aproveitando a oportunidade para esvaziar as prisões cubanas.
Para Brian De Palma, o filme era uma mudança radical, longe de seus tradicionais jogos no estilo de Hitchcock com voyeurs, janelas e duplos de um só personagem. Hoje em dia, Scarface é considerado o auge de Brian De Palma, um tratado sobre a fragilidade das condições da masculinidade e da política do poder.
Para Al Pacino, o papel era a oportunidade de explorar um chefe do crime totalmente oposto a Michael Corleone de O poderoso chefão, de Coppola. Corleone é astuto e sereno, inteligente e ardiloso; Montana é instintivo, impulsivo e afobado. Pacino tem uma extraordinária diversidade de estilos e uma habilidade perfeita para evocá-los. Não existe "o desempenho Al Pacino", mas sim muitos diferentes. Ele interpreta Tony Montana com parâmetros operísticos, como um homem que deseja cada vez mais e acaba sendo morto pelos próprios excessos.
Na sequência final, ele está diante de uma montanha de cocaína sobre a escrivaninha e emrgulha o nariz como se tentasse aspirar a própria vida. Pacino interpreta boa parte desta cena com pó branco grudado no nariz. Este detalhe é frequentemente parodiado, porém trata-se de uma escolha de atuação correta, mostrando como aquele homem se tornou indiferente a tudo menos ao vício.
Se em Scarface Pacino exagera, e de fato o faz, é porque o personagem assim exige: a vida de Tony Montana é um exagero permanente.
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