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domingo, 30 de setembro de 2012

A LONGA CAMINHADA (1971) - WALKABOUT



Duas crianças (uma menina de quatorze e um menino de seis) são abandonadas pelo pai louco que, pouco antes de se suicidar, tenta matá-las em meio a uma região desabitada do deserto australiano. À mercê do destino e com poucos recursos para sobrevivência, o garoto e a menina passam a ser auxiliados por um aborígene, que vive sozinho pelo deserto para cumprir um ritual de sua tribo.


O filme do diretor Nicolas Roeg, de 1971, foi saudado como obra-prima. Depois desapareceu no esquecimento, aparentemente devido a brigas envolvendo sua propriedade, e passou anos sumido. Em 1996, nova versão incluía cinco minutos de nudez que haviam sido amputados da cópia original.


O título deriva de um hábito dos aborígenes da Austrália: na época em que o menino se transforma em homem, um adolescente aborígene saía em "longa caminhada" de seis meses pelo Outback australiano , sobrevivendo (ou não) conforme suas habilidades para caçar, preparar armadilhas e arranjar água naquele deserto.


Há um inconfundível componente sexual encoberto: os adolescentes estão em seus primeiros anos de exacerbada consciência do sexo. A menina ainda usa uniforme escolar, que a câmera olha com sutil sexualidade (uma ambígua tomada sugere que o pai tinha uma preocupação doentia com o corpo da filha).


Em A longa caminhada, o detalhe crucial é que os dois adolescentes jamais acham um meio de se comunicar. Em parte talvez porque a menina não julgue necessário : durante o filme inteiro ela se conserva implacável nas atitudes da classe média convencional, encarando o aborígene mais com curiosidade e complacência do que como outro ser humano.


O filme não fornece informação adicional, portanto não podemos atribuir sua atitude a racismo ou preconceito cultural, mas certamente revela total ausência de curiosidade por parte da menina. O aborígene, por sua vez, não tem idéia de como defender suas intenções de outro modo além dos rituais de seu povo. Quando estes falham , ele perde o ânimo e a esperança.


A longa caminhada não é a história de uma menina e de seu irmão perdidos no Outback, que sobrevivem graças aos conhecimentos do engenhoso aborígene. A questão essencial é discutir como todos os três ainda estão perdidos no fim do filme - mais perdidos do que antes, porque agora , além de estarem à deriva no mundo, sofreram perdas interiores. O filme é profundamente pessimista. Sugere que todos nós desenvolvemos capacidades e talentos específicos que reagem a nosso ambiente, mas não funcionam com facilidade em um campo mais amplo. Não quer dizer que a menina não apreciasse a natureza, nem que o aborígene não pudesse viver em um mundo diferente daquele em que foi treinado. Quer dizer que todos nós somos cativos do meio ambiente e da programação: que há um vasto campo de experimentações e experiências sempre invisíveis para nós, por se situarem em um espectro que não podemos ver. 



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