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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

HANNAH E SUAS IRMÃS ( 1986 ) - HANNAH AND HER SISTERS


O último e mais abrangente longa-metragem de uma primorosa série de filmes de Woody Allen que começou com Sonhos eróticos de uma noite de verão, este filme, talvez inspirado em Bergman, mas com tonalidades que lembram Renoir, revela a influência dos  dois mestres sobre Allen ao traçar as mudanças em vários relacionamentos complicados durante o espaço de um ano. Centrado, como alguns de seus outros filmes, na parte artística e privilegiada de Manhattan, o filme focaliza três irmãs ( Mia Farrow, Barbara Hershey e Dianne Wiest ), os parceiros das duas primeiras ( Michael Caine e Max Von Sydow ), o ex-marido da primeira (Allen) e alguns amigos e colegas que entram em cena para complicar a ciranda romântica.


Allen está menos a frente do que de hábito e sua neurose hipocondríaca habitual consome menos tempo e empatia do que Caine, que deixa de lado sua fidelidade a Farrow por conta de uma paixão por Hershey. Na verdade, um dos prazeres do filme é a maneira como Allen lida com o escopo da narrativa, maior do que o tradicional. Os personagens são, no mínimo, mais bem acabados do que os anteriores, mesmo quando a abrangência ampliada nos dá um sentido de um mundo maior que é externo ao outro mundo, o que constitui o núcleo ficcional do filme.


Em muitos aspectos, é claro, são as mesmas velhas situações, tipos, até mesmo às piadas antigas, e apear disso há algo de Checov no filme: a delicada tristeza de vários dilemas emocionais, a consciência da dor muito real subjacente às piadas, o amargo e inevitável fato da morte pairar subentendida no ar o tempo todo, enquanto Woody, o bobo da corte ansioso, encara questões médicas. As piadas não são apenas tiradas espirituosas, mas totalmente plausíveis em termos de personagens e enredo, fazendo justiça a um dos melhores elencos que Allen já reuniu.


Ao contrário de outros filmes, sente-se em Hannah e suas irmãs um sincero tributo às boas coisas que quase fazem com que a vida valha a pena, ao invés da percepção de que a sensação foi forçada ( embora Allen houvesse, de fato, chegado a pensar em um final mais sombrio ).

Comentário pessoal : Woody Allen foi durante muitos anos ( talvez ainda seja ) o meu diretor preferido. Como eu comecei assistindo os seus filmes dos anos 70, onde ele era o núcleo do filme, e aparecia em todas as cenas, a primeira vez que assisti Hannah e suas irmãs eu ( que era jovem e tolo ), me irritei com o fato dele não aparecer em todas as cenas. Quando assisti ao filme pela segunda vez ( pouco mais velho e um tantinho menos tolo ), percebi a beleza do filme como um todo. A história envolvendo Caine e Hershey tem momentos belíssimos ( " Ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas " ) . Isto posto, não sei dizer se Hannah é o melhor filme de Allen ( tem dias que acho que sim, outros acho que este posto cabe a Manhattan ) mas certamente é o seu filme mais bem construído e mais bem acabado. E, para mim, é seu último grande filme, embora Desconstruindo Harry esteja bem acima da média do que ele fez nos últimos vinte e cinco anos.


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