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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

AKIRA ( 1988 )


Akira, a obra-prima de animação de Katsushiro Ôtomo, é o ápice da ficção científica apocalíptica japonesa. A trama é aparentemente simples: no futuro caótico de Neo-Tóquio ( assim chamada por ter substituído a Tóquio original, destruída por um cataclismo misterioso no final do século XX ), Kaneda, um adolescente membro de uma gangue de motociclistas, descobre que seu ex-melhor amigo Tetsuo transformou-se em um telepata homicida com o desejo e o poder de matar milhares de pessoas. Relutantemente, Kaneda alia-se a um grupo de terroristas antigovernamentais em sua busca pelo misterioso Akira, um telepata ainda mais poderoso que Tetsuo.


A genialidade de Ôtomo está em vincular o apocalipse com a raiva de adolescentes descontentes. Afinal de contas, para um adolescente, cada emoção é apocalíptica. Então imagine que um deles tivesse poderes telecinéticos que aumentassem exponencialmente com suas próprias emoções, e imagine que esse adolescente seja o sujeito mais furioso e ressentido que você já tenha encontrado. Pense em tudo isso e aí imagine as cenas de devastação mais avassaladores concebíveis - que você estará bem perto do resultado final de Akira.


O rush de energia provocado pela ação do filme é bem mais que a adrenalina de dirigir a 300 km por hora. Ele fornece o glacê para uma investigação séria das idéias e metáforas que preocupam a psique japonesa, especificamente o colapso e mal-estar social, bem como ambivalência permanente diante do poderio militar. Não é meramente acidental que as três grandes forças em oposição no filme sejam motociclistas delinquentes adolescentes, aspirantes a revolucionários e os militares.


Acima de tudo, a história de Akira é impulsionada pelo medo existente na sociedade japonesa em relação a seus jovens - selvagens, incontroláveis e caóticos. Tetsuo é o ápice do adolescente enfezado, um que tem poder suficiente para matar dezenas de pessoas de uma só vez, e há uma razão pela qual o governo e o exército têm verdadeiro pânico do enigmático Akira, para sempre congelado em uma infância interrompida. Isso é a adolescência causando destruição em escala épica, trazendo memórias das bombas atômicas jogadas sobre o Japão durante a guerra, bem como de nossos medos coletivos e permanentes de aniquilação. 


A fascinação da cultura pop japonesa com o apocalipse vai além de um mero flerte e explode nas mais variadas formas sempre que pode, o que não é necessariamente muito saudável, mas certamente abre espaço para excelentes histórias.  



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