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sábado, 12 de maio de 2012

ERVAS FLUTUANTES (1959) - UKIGUSA


Todo aquele que ama o cinema entra, mais cedo ou mais tarde, em contato com Yasujiro Ozu. Ele é o mais quieto e delicado dos diretores, o mais humanístico, o mais sereno. Mas as emoções que fluem de seus filmes são fortes e profundas, pois refletem as coisas de que mais gostamos: pais e filhos, casamento ou a vida a sós, doenças e morte, e cuidar uns dos outros.


Ervas flutuantes conta a estória de uma companhia de atores de teatro que, durante suas excursões pelo Japão, resolve aportar numa pequena ilha de pescadores. A figura central do filme é Komajuro, um ator de meia-idade que foi um dos formadores da companhia. Quando chega na ilha, ele passa a ir todos os dias visitar uma antiga amante, Oyoshi, que é dona de um bar de saquê. Há anos tiveram um filho juntos, Kiyoshi, que acabara de se formar na escola e foi trabalhar nos correios. 


Porque Komajuro sempre foi um ator viajante e apenas esporadicamente estava presente, ele e Oyoshi sempre esconderam de Kiyoshi a identidade do pai, dizendo que ele era apenas um tio e que o pai de verdade dele tinha morrido há muito tempo. O velho ator, vendo como seu filho cresceu, tornando-se uma pessoa de bem e estudiosa, aproveita esta oportunidade na ilha para conhecê-lo melhor, passando então a maior parte do tempo fora. Isso atiça a curiosidade de Sumiko, sua atual amante e principal atriz da companhia, que acaba descobrindo sobre a família secreta do mestre e, louca de ciúmes, contrata uma jovem e bela atriz da companhia para seduzir Kiyoshi, afim de afastá-lo do caminho dos estudos que seu pai sempre sonhou para ele.


Esta história poderia ser contada de várias formas. poderia ser um dramalhão, um musical, uma tragédia. O diretor Yasujiro Ozu a conta em uma série de eventos cotidianos. Ele ama demais seus personagens para adicionar drama em artificiais altos e baixos. Acima de tudo, tomamos conhecimento da existência física dessa gente, e em particular do velho e esgotado Komajuro, quando curte prazerosamente um cigarro no bar de saquê, satisfeito por ter um momento de paz para si.


As cenas de Ozu refletem os ritmos da vida comum. Mostram personagens de menor importância em conversas sem propósitos; ficamos sabendo muito sobre a trupe por intermédio dos mexericos dos atores coadjuvantes.    


Ozu não vai de um drama para outro. Ele utiliza seu estilo visual para nos deixar contemplar e conviver com a ação. A câmera está sempre um pouco mais baixa que os personagens; quando estão sentados em tatames, está somente a alguns centímetros do chão. Isto dá um certa majestade à mediocridade deles. Entre as cenas, o diretor, por muitas vezes, faz cortes para "cenas intermediárias" - duas ou três tranquilas composições , mostrando detalhes da arquitetura, um estandarte ao vento, uma árvore ou o céu.


Ozu era extremamente japonês ao utilizar fatos similares e trabalhá-los por várias vezes com sutis diferenças a cada vez, sempre com um estilo próprio. Tal como desenhistas japoneses dos séculos passados, ele não gostava de novidades e dava preferência a variações sobre um mesmo tema. Quando vemos os seus filmes, nos sentimos nos braços de um sereno, confiável e carinhoso mestre. Nas suas histórias sobre pessoas que vivem fora do circuito, encontramos, de uma forma ou de outra, alguém que conhecemos.




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