Pesquisar este blog

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

CASABLANCA ( 1942 )



O mais querido de todos os ganhadores do Oscar de Melhor Filme, este romântico melodrama de guerra sintetiza a febre da década de 40 por exotismos de estúdio, com os terrenos da Warner transformados em um Norte da África fantástico que parece muito mais autêntico do que qualquer outro lugar meramente real poderia ser. Casablanca também conta com mais atores cult, falas possíveis de citação, clichês instantâneos do que qualquer outro filme da era de ouro de Hollywood.


Ninguém que participou da produção de Casablanca pensou estar fazendo um grande filme. tratava-se simplesmente de mais um filme da Warner. Um filme "classe A", com certeza ( Bogart, Bergman e Paul Henreid seriam as estrelas, e a Warner não poderia ter reunido em elenco de coadjuvantes mais qualificado do que Peter Lorre, Sydney Greenstreet, Claude Rains e Dooley Wilson ). Todvia, seria produzido com baixo orçamento e lançado sem grandes expectativas. Qualquer um dos atores poderia estar trabalhando em dúzias de outras produções nas mesmas circunstâncias, mas a grandeza de Casablanca foi em parte o resultado de uma boa dose de sorte. O roteiro foi adaptado de uma peça sem muitas consequências; memórias falam de sobras de diálogos anotadas de vários apontamentos e passadas a jato para o set. O que deve ter ajudado é que os personagens estavam firmemente estabelecidos na cabeça dos roteiristas, e eram tipos tão próximos das personalidades dos atores que era difícil escrever um diálogo no tom errado.


Bogart interpretou fortes líderes heróicos em sua carreira, mas era usualmente melhor quando representava o herói desapontado, ferido e ressentido. Em Casablanca ele protagoniza Rick Blane, o beberrão norte-americano que gerencia uma casa noturna em Casablanca, na época em que o Marrocos era uma encruzilhada para espiões, traidores, nazistas e membros da Resistência francesa. Vemos como Rick se movimenta facilmente num mundo corrupto. " Qual é a sua nacionalidade ? ", pergunta-lhe o alemão Strasser, ao que ele responde, " Sou um bêbado ". Seu código pessoal: " Eu não arrisco meu pescoço por ninguém ".


A trama envolve vistos especiais para autorizar que duas pessoas embarquem de Casablanca para Portugal e, a seguir, para a liberdade. Rick consegue as autorizações do adulador Ugarte ( Peter Lorre ), que age no mercado negro. A repentina aparição de Ilsa ( Ingrid Bergman ) reabre todas as feridas e quebra toda a sua cultivada aparência de neutralidade e indiferença. Assim que ouve a história dela, ele tem certeza de que ela sempre o amou. Mas agora está com Laszlo, um importante líder da resistência, Rick quer utilizar as permissões para fugir com Ilsa, mas então, numa atormentada sequência, que combina romance, suspense e comédia, como raramente foram reunidas na tela, ele arma uma situação para que Ilsa e Laszlo fujam juntos, enquanto ele e seu amigo, o chefe de polícia ( Rains ), deixam mais um crime impune ( "Prenda os suspeitos de sempre ." ) 


De uma perspectiva atual, o filme revela suposições interessantes. O papel de Ilsa é basicamente o de amante    e colaboradora de um grande homem; mas a principal pergunta do filme é: com qual dos dois homens ela deveria ter ficado ? Não havia verdadeiramente nenhum motivo para que Laszlo não embarcasse sozinho no avião, deixando Ilsa em Casablanca com Rick, e este foi, com certeza, um dos finais rapidamente considerados. Mas isto não daria certo. O final "feliz" teria o lustro do egoísmo, enquanto o final que temos permite que Rick seja generoso, aproximando-o da nobreza. ("Não é preciso muito para ver que os problemas de três insignificantes pessoas, que não dão uma pequena montanha de feijões, não contam muito neste mundo louco. ") E o filme nos permite sentir olimpicamente tudo isto no cinema, acalentado pelo ardor do seu heroísmo.

Em seus close-ups durante esta cena, o rosto de Bergman reflete confusas emoções. E ela devia realmente estar confusa, já que nem ela e nem qualquer outro no filme sabia com certeza, até o último dia, quem subiria naquele avião. Bergman trabalhou no filme todo sem saber qual seria o final, e isto teve o sutil efeito de fazer todas as suas cenas mais emocionalmente convincentes, pois ela não podia se inclinar na direção em que sabia que o vento estava soprando.


O filme lembra um álbum de músicas favoritas: quanto mais se conhece, mais se gosta dele. A fotografia em preto-e-branco não envelheceu como a colorida envelheceria. O diálogo é tão econômico e cínico que continua atual até os dias de hoje. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário