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domingo, 19 de fevereiro de 2012

LARANJA MECÂNICA ( 1971 ) A CLOCKWORK ORANGE


O filme mais controverso de Stanley Kubrick, uma fábula de ficção científica social, produzida em 1971, foi retirado de circulação no Reino Unido pelo próprio diretor durante quase trinta anos, apesar de seu lançamento inicial ter sido muito bem-sucedido mas fortemente criticado. Ressurgiu, envolto em mística, não muito depois de sua morte. Laranja mecânica permanece um filme eletrizante, uma tradução corajosa para o cinema do romance de Anthony Burgess que, por sua vez, foi publicado com aprovação e notoriedade em 1959, mas durante muito tempo acreditou-se que era impossível filmá-lo.


Delinquente porém inteligente, o espertalhão-malandro Alex De Large ( Malcolm McDowell ) tem como prazeres a pornografia, Beethoven e principalmente a liderança de seu bando, os "Droogs", sempre vestidos com macacões brancos e usando chapéus-coco pretos, em acessos frenéticos e descontrolados de "ultra-violência", nos quais usam um dialeto peculiar, uma gíria rimada criada a partir de um hibrido de russo e inglês.


A cena mais perturbadora nesta primeira seção do filme, com 20 minutos, é aquela que voltará para assombrar Alex quando ele se encontrar indefeso na parte final. Depois de invadir uma luxuosa casa futurista, eles espancam o marido e estupram sua esposa enquanto Alex canta "Singin in the rain" aos berros e dispara fortes chutas com suas ( então na moda ) botas Doc Marten, ao rítmo da música. É interessante notar que a cena do estupro fica na memória dos espectadores como sendo especialmente sórdida, embora Kubrick corte a cena violenta assim que Alex termina de cortar o macacão vermelho colante da mulher. Outro passeio em busca de emoção termina quando Alex estoura os miolos de uma mulher com uma gigantesca escultura fálica, crime pelo qual acaba sendo pego.


Mas a brutalidade institucionalizada que resulta da punição de Alex e a "reabilitação" que o transforma em um covarde sem vontade própria são tão assustadoras quanto os crimes dos Droogs, e também mais provocadoras, como uma sátira corrosiva da hipocrisia, corrupção e sadismo da sociedade. Vendo uma chance de sair da prisão, Alex torna-se voluntário para uma terapia de aversão experimental com fins políticos. Submete-se a uma terrível "cura behaviorista - amarrado, com seus olhos mantidos abertos à força - que suprime sua tendência violenta mas também retira sua humanidade. Incapaz de cometer maldades, ele se torna um indivíduo enfraquecido. De volta ao mundo, não aprecia sua "liberdade". Traído por seus antigos camaradas, que, ironicamente, tornaram-se policiais, recebe uma retribuição hilariamente intimidadora em um encontro com uma de suas vítimas.


A impressionante visão de Kubrick de um futuro não muito distante ficou datada em alguns detalhes sutis ( discos de vinil, a máquina de escrever IBM de Alex ), porém a violência pela qual foi tão criticado em seu lançamento tornou-se discreta para os padrões viscerais contemporâneos. A visão de tolos agressivos e sem propósito que descarregam o seu enfado em uma crueldade sem restrições é assustadoramente atual, assim como a questão central do filme - a fragilidade dos direitos individuais quando estes não se conformam com os desejos do Estado.


Sempre elegante e muitas vezes engraçado, com trilha sonora original futurista de Walter Carlos, Laranja mecânica permanece mais vigoroso do que muitos de seus óbvios derivativos.


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